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Até quando a resignação?

O crescimento de passageiros desembarcados nos Açores tem sido evidente, mas é preciso analisar os números para além da espuma mediática dos recordes.

Analisando os dados do relatório dos passageiros desembarcados nos Açores, é possível verificar que a ilha do Faial, com exceção do Corvo (única ilha com resultados negativos), é a que obtém o menor crescimento em 2024. Na verdade, o Faial teve um crescimento percentual insignificante, com +0,23%, confirmando sua estagnação.

Este relatório adensa uma realidade que há muito ando a chamar a atenção e que demonstra a perda de importância da nossa ilha em termos políticos, económicos e sociais. Senão vejamos, enquanto a vizinha ilha do Pico, com uma realidade semelhante à nossa, experimenta um crescimento notável no número de passageiros desembarcados, o Faial apresenta um crescimento anémico, revelando uma estagnação alarmante. A ilha do Pico registou um crescimento significativo, passando de 102781 passageiros desembarcados em 2023 para 112126 em 2024. Este crescimento de quase 10 mil passageiros reflete um dinamismo que contrasta fortemente com o Faial, que viu um aumento meramente residual, passando de 144272 para 144605 (+333 passageiros).

Este cenário torna-se ainda mais evidente quando analisamos os voos diretos entre Lisboa e estas duas ilhas. Segundo o Serviço Regional Estatística dos Açores, em 2019 registaram-se 139 voos anuais na rota Lisboa/Pico/Lisboa, número que subiu para 178 em 2024. Um aumento de 39 voos por ano, refletindo um investimento claro pelo governo regional (acionista único do grupo SATA), na conectividade da ilha.

Em contrapartida, os voos na rota Lisboa/Horta/Lisboa diminuíram. Em 2019, havia 342 ligações anuais, número que caiu para 339 em 2024, uma redução simbólica, mas que confirma a ausência de um reforço na aposta no Faial, apesar das dificuldades em arranjar voos diretos na época alta (em ambas as ilhas) e os preços exorbitantes para turistas. Se, por um lado, o Pico é cada vez mais visto como uma aposta para o turismo e para o investimento em ligações diretas por parte deste governo, o Faial parece ficar para trás, sem uma estratégia clara para reverter esta tendência.

Comparação dos dados de 2019 Vs 2024 do Aeroporto da Horta e Aeroporto do Pico (Fonte: SREA)

A estagnação do desembarque de passageiros no Aeroporto da Horta e a redução dos voos diretos refletem não apenas a resignação da população, mas também a incapacidade de influência dos representantes locais junto do governo e a inabilidade da oposição em colocar o tema na agenda mediática. Ironicamente, este desacelerar do Faial, contrastando com o crescimento expressivo da ilha vizinha e de outras ilhas do arquipélago, ocorre sob a governação do PSD, outrora paladino das reivindicações e partido mais votado pelos faialenses desde 2016 nas legislativas regionais.

É importante combater esta tendência com medidas concretas para revitalizar o destino, melhorar as acessibilidades e as infraestruturas aeroportuárias e portuárias, garantindo assim que o Faial não fique para trás nesta nova dinâmica de desenvolvimento regional.

Se as forças vivas do Faial continuarem a ignorar estes sinais e a celebrar qualquer crescimento residual como uma vitória, a ilha corre o risco de perder ainda mais competitividade dentro do arquipélago. O momento exige ação, planeamento e ambição, e não apenas o conformismo com números que pouco dizem sobre o real futuro da ilha.

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