O Plano e Orçamento para 2025 para a Região Autónoma dos Açores expõe questões que vão muito além das disputas partidárias, tocando em temas cruciais para a vida da população faialense. Apesar de medidas realizáveis, como aliás acontece todos os anos, é impossível ignorar a sensação de promessas não cumpridas e a frustração com a aparente estagnação de obras e projetos essenciais para a ilha do Faial. A execução de apenas 35,47% do plano anterior não é apenas um número; é um reflexo de incapacidade de gestão e execução que impactam diretamente a qualidade de vida dos cidadãos.
O Faial, como outras ilhas do arquipélago, enfrenta desafios únicos que exigem mais do que boas intenções ou promessas recicladas. Estradas por concluir, património por reabilitar e estruturas portuárias e aeroportuárias paradas no tempo são exemplos tangíveis de uma realidade que não pode continuar a ser ignorada. Cada uma dessas obras representa uma oportunidade perdida de desenvolvimento, de dinamização económica e de melhoria das condições de vida da população local, mas mais do que isso, um claro ficar para trás da nossa ilha no todo regional.
Talvez o mais preocupante seja a questão das acessibilidades, que, em vez de progredirem, parecem regredir. A redução de ligações aéreas e a diminuição da capacidade no transporte marítimo não são meros inconvenientes logísticos; são obstáculos à mobilidade, ao turismo, à economia local e à coesão territorial. Não é aceitável que a ilha do Faial, com a sua importância histórica e estratégica, continue a ser penalizada em algo tão básico quanto a conectividade.
No campo portuário, o porto da Horta e a sua marina enfrentam desafios graves. O parque de invernagem e reparação naval inacabado reflete a falta de estratégia e visão de longo prazo. Este equipamento, crucial para a economia marítima da ilha, permanece num estado que deveria envergonhar qualquer responsável pela sua execução.
A acessibilidade é outro tema crítico. Com uma redução de voos semanais entre o Faial e Lisboa e mudanças nos circuitos marítimos que desviam recursos do canal Horta-Madalena, a mobilidade dos faialenses e de quem nos visita tem sido prejudicada.
E os números mais recentes das dormidas em 2024 estão aí para demonstrar esta realidade. No meio de um boom de turismo nunca antes visto nos Açores, não é à toa que o Faial, com a exceção do Corvo, é a ilha que menos cresce. Não é à toa que o Pico já ultrapassou o Faial em número de dormidas e que somos, a par da Graciosa, as únicas ilhas com resultados negativos em pleno mês de setembro. Não é à toa que somos a única ilha com resultados negativos no Alojamento Local em setembro (-6,9%) e que no total do ano temos dos crescimentos mais baixos de todos os Açores.
O Faial precisa de mais do que intenções e retórica. Precisa de ações concretas e eficazes, que respeitem a dignidade de uma ilha cujo potencial é tão vasto quanto o mar que a rodeia.
Planos e orçamentos devem ser mais do que documentos; devem traduzir-se em ações concretas e transformadoras.
A população Faialense merece mais do que palavras e números atirados para o ar. Precisa de um compromisso sério com o desenvolvimento, a execução eficaz de projetos e a valorização do seu papel no contexto regional.
(artigo publicado na edição de 6 de dezembro de 2024 do Tribuna das Ilhas.)
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