Num arquipélago onde a distância e o mar moldam a vida quotidiana, os transportes e a gestão pública deviam ser tratados com rigor e visão estratégica. Mas os factos, os números e as histórias reais contam outra história – e é uma história de descontrolo e desorganização.
De acordo com os dados oficiais da Conta da Região, a dívida a fornecedores atingiu, em 2024, o valorimpressionante de 436,2 milhões de euros, face aos 154,5 milhões registados em 2020. Por sua vez a dívida pública da Região apresenta novo recorde de 3400milhões de euros em 2025, um aumento de 1000 milhões apenas nos últimos 4 anos do Governo de Coligação. Esta trajetória desgovernada ocorre ao mesmo tempo que a execução dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) se mantém vergonhosamente baixa, segundo dados publicados recentemente.
Mas talvez nada simbolize melhor esta inépcia do que a forma como se geriu – e continua a gerir – a SATA, empresa pública essencial ao arquipélago. Após anos a insinuar que as rotas deficitárias seriam ligações como Lisboa-Horta, os documentos oficiais revelam a verdadeira hemorragia financeira: rotas internacionais ruinosas como Funchal–Boston, Porto–Toronto ou Ponta Delgada–Milão foram algumas das várias operações que, segundo a própria Secretaria Regional dos Assuntos Parlamentares, nunca cobriram sequer os custos variáveis.
Enquanto se despejam milhões em rotas inviáveis para o exterior, o Faial viu o número de voos semanais programados na rota Lisboa-Horta reduzidos na época alta. Em vez de melhorar o serviço, pioraram. Em vez de reforçar a ligação de uma ilha com enorme importância histórica, turística e estratégica, deixaram-nos com menos alternativas, mais incerteza e mais frustração.
Hoje, é cada vez mais comum ver aviões que deviam aterrar no Horta desviados para socorrer operações noutras ilhas. Quatro voos cancelados num só dia já nem chocam. Pior: as falhas operacionais da SATA deixaram de ser incidentes isolados para se tornarem parte da rotina.
Já todos sentimos na pele ou conhecemos alguém que ficou horas ou dias preso no aeroporto. Que perdeu o casamento de um familiar, a consulta médica há meses marcada, uma reunião de trabalho, as férias que tanto custaram a pagar ou até um funeral de um ente querido. Quem chegou ao destino e... sem malas.
Quem tem alojamento local sabe bem qual é a queixa mais frequente de quem nos visita.
Antes ainda se justificavam atrasos com o vento ou o nevoeiro. Agora, quando o céu está limpo e os aviões não chegam, reina o silêncio institucional. Agora, muitos dos que eram críticos tornaram-se cúmplices pelo silêncio ou preocupados em arranjar uma justificação.
A gestão política da companhia aérea continua opaca e desastrosa, com decisões sem critério estratégico e baseadas num marketing ilusório de internacionalização sem retorno. A SATA não só falha no seu papel de ligar os Açores ao mundo, como falha no básico: ligar os açorianos entre si e ao continente.
Com a dívida pública regional em máximos históricos, a SATA atolada em prejuízos e o Aeroporto da Horta transformado em símbolo da negligência política, é legítimo perguntar: quem está a ser servido por este Governo Regional?
É tempo de exigir respostas claras, ação concreta e respeito pelos compromissos públicos. Porque os Faialenses – como todos os Açorianos - merecem mais do que voos cancelados, promessas adiadas e dívidas recorde.
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