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O Rei vai nu

O resultado das Legislativas foi aquilo que se previa. Já todas as análises foram feitas e em relação às mesmas, apenas saliento que, numa democracia representativa parlamentar, o relevante é o número de deputados eleitos e a maioria que daí advém. Assim, constatamos que face às últimas eleições, o PS ganhou +20 deputados e o PAN +3. O PSD perdeu 12, o CDS perdeu 13, a CDU perdeu 5 e o BE manteve o mesmo número. Faltam nestas contas os 3 novos deputados do IL, Livre e Chega, que não estavam representados anteriormente, bem como os 4 deputados a eleger pelos emigrantes. Destaque também para a abstenção, sobre a qual já escrevi no artigo anterior, e o facto de o PS ter mais deputados (106) que toda a direita (PSD, CDS, IL e Chega com 84). 

Se o partido que formaria governo já era há muito conhecido, o mais importante será perceber que tipo de apoio parlamentar dai advém. Sendo essa ainda uma incógnita, vou cingir-me, por agora, a 2 outros aspetos que achei relevantes: 

1 - O discurso de Rui Rio e Alexandre Gaudêncio 
- Simpatizo com Rui Rio e achei fundamental o seu papel na recolocação do PSD no centro do nosso espectro político (depois da inversão excessiva à direita com Passos Coelho), bem como o seu desempenho na campanha eleitoral. Mas ao contrário do que quis fazer crer, com o seu ar sorridente e discurso (quase) triunfal, tratou-se de um dos piores resultados de sempre do PSD. 
Os votos em urna do PSD foram o 2º pior resultado de sempre: desde 1976 que não tinham tão poucos. No que toca à % de votos, há 36 anos que não tinham um resultado tão fraco. Ao nível dos deputados eleitos é o 2º pior resultado deste século. PSD e CDS juntos obtiveram o pior resultado da direita na histórica da nossa democracia. 

- Nos Açores o resultado foi mais explícito e o discurso surpreendente, com Alexandre Gaudêncio a afirmar que o resultado "deixa o caminho aberto para, nas próximas eleições regionais, retirarmos o PS da governação dos Açores". 
Ora, se no Continente a diferença já foi clara, nos Açores o PS obteve 40% e o PSD 30,2%, tendo a diferença dos votos entre ambos aumentado para o dobro. 
Estamos a falar da maior derrota de sempre da história do partido nas Legislativas, isto depois da maior derrota de sempre do PSD-Açores para o Parlamento Europeu. 

Resumindo, Gaudêncio tem no currículo, como líder do PSD-Açores, 2 derrotas históricas consecutivas e o estatuto de arguido, por estar "fortemente indiciado" em vários crimes de corrupção! 
O Rei vai nu e parece que são muito poucos os que têm coragem para o dizer. 
                                          

2- A eleição do Chega 
Respeitando o resultado, fiquei desiludido com a eleição de um partido de extrema-direita populista em Portugal. Sobretudo por sermos um País estável, tolerante, acolhedor, sem grandes conflitos sociais, sem terrorismo, sem ondas de imigração problemáticas e um dos mais seguros do mundo. 

O crescimento destes movimentos é uma realidade mundial, sobretudo em países com os problemas que referenciei. Era de esperar que aqui também crescesse, seguindo a estratégia de sucesso de outros países. 

O Chega é um partido oportunista, populista, boçal e xenófobo, que explora os medos e anseios mais básicos e tira partido de polémicas, com argumentos de discussão de café e soluções ingenuamente simplistas. 

Em Portugal, tenho divergências políticas tanto com alguns partidos de direita, como de extrema-esquerda, mas tenho divergências éticas, humanistas e de defesa dos direitos humanos e de liberdades individuais com o Chega. Um partido que defende princípios que chocam com os atuais valores civilizacionais sobre o que é a dignidade da vida humana e o respeito pela diversidade individual. São coisas diferentes. 

O Chega na Assembleia da República foi o que de pior resultou destas eleições. Tenhamos cuidado para o não deixar prosperar com o primarismo da sua mensagem, sobretudo à conta de incautos eleitores de direita (mas não só), descontentes com partidos fundadores e importantes na nossa democracia, como o CDS, e a franja mais à direita do PSD. O crescimento agora registado, não será alheio ao pior resultado da história desses 2 partidos.

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