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Crónica de uma derrota anunciada

Estamos a um mês das eleições, mas não vou escrever um artigo de opinião a analisar os diferentes argumentos, propostas, candidatos e suas performances nos debates, nem o interesse que será o campeonato dos partidos “pequenos” e eventuais consequências no xadrez politico. Em vez disso, vou debruçar-me sobre algo que julgo premente para o futuro dos Açores.

Refiro-me à situação atual do maior partido da oposição, o PSD, um partido fundador da autonomia e com uma importância fundamental para a estabilidade regional e para evitar derivas radicais à direita. 

Como já tive oportunidade de escrever anteriormente, o PSD vive um momento que tem tanto de surpreendente, como de dramático, com o atual e os 2 anteriores líderes com processos na justiça. Um dos quais viu-se obrigado a abandonar precocemente a liderança a 1 ano das eleições. Estamos a falar das principais e mais mediáticas figuras do partido dos últimos anos, não se vislumbrando a curto/médio prazo ninguém com equivalente impacto e características para ganhar umas eleições. 

O atual líder era o grande trunfo do partido, guardado para as fundamentais eleições de 2024, já com Vasco Cordeiro impossibilitado de concorrer a novo mandato. Ao invés disso, foi obrigado a “ir a jogo” por substituição forçada, a poucos meses das eleições, podendo sair “lesionado” como os seus antecessores, devido à ânsia desesperante de um partido que está há muito tempo sem governar. 

A prova disso foi a guerra de cadeiras na formação das listas, que ultrapassou os limites do razoável. O resultado foi um sem número de demissões em várias ilhas, desvinculações de militantes e fortes críticas internas, todas elas escancaradas na comunicação social e demonstrativas, não só das roturas existentes, como do facto de darem as eleições como perdidas, tornando os lugares elegíveis para deputado uma luta de vida ou de morte. Como referiu um conhecido militante do PSD-Faial, que recentemente se desvinculou, “tudo isto parece entregue à bicharada”. 

Se é verdade que José Bolieiro tem poucos meses como líder, é constrangedor verificar a ausência de ideias da máquina do partido, baseando a estratégia no desgaste da governação socialista e na história do “medo” e da confiança (como se o voto não fosse secreto). Acresce a tudo isto um início de (pré) campanha tardio e inconsequente, que nem a COVID-19 consegue justificar. 

E para terminar, a cereja em cima do bolo, a candidatura do deputado da Assembleia da República, António Ventura, como cabeça de lista pela Terceira, que acabou chumbada pelo Tribunal e pôs a nu todo o oportunismo e amadorismo do próprio e do partido, fazendo tábua rasa da incompatibilidade prevista na Lei. E de pouco serve a desculpa da jurisprudência com o que se passou no passado, porque sabendo de antemão a questão, devia ter suspendido o cargo de deputado na República, como aconteceu nas eleições de 88, evitando todo este espetáculo mediático e degradante para a política Açoriana. 

Trata-se de uma candidatura interesseira em que o candidato tem a desfaçatez de dizer publicamente que apenas quer ser membro do Governo, percebendo-se o porquê de querer permanecer como deputado na República. Desprestigia o cargo para o qual se candidata, o principal órgão de soberania regional e todos os potenciais votos para o mesmo. Difícil é fazer pior… 

Não quero com este texto dizer que a atual governação tem sido um “mar de rosas”, ou que está isenta de críticas e falhas. Mas é por demais evidente que estão a léguas do vazio de ideias, desespero e amadorismo que está a ser demonstrado pelo maior partido da oposição. Como muitos escreveram nas redes sociais, “se nem se sabem governar, como esperam poder governar os Açores?” E isso é algo que entra pelos olhos da maioria dos Açorianos, não sendo difícil de perceber qual será o partido mais votado no dia 25 de outubro.

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