Os Açores estão a dar cartas na
escalada do défice e da dívida. Se antes já tínhamos uma dívida respeitável,
agora, sob a brilhante batuta do PSD/CDS/PPM decidiu-se levar o seu crescimento
para um nível olímpico.
Os analistas, sempre alarmistas,
insistem que a dívida bruta regional já cresceu 1.000 milhões com a atual
governação. Mas sejamos justos: quem é que precisa de contenção orçamental quando
se pode gastar e depois pedir ao contribuinte para tapar o buraco?
Já o défice, em 2024 atingiu uns brilhantes
122 milhões de euros, o que comparando com os modestos 88 milhões de 2023, fica
claro que a Região está empenhada em subir a fasquia.
Curiosamente, este aumento do
défice acontece num ano em que as receitas da Região cresceram uns invejáveis
8,8%, chegando aos 1,45 mil milhões de euros. Mas de onde veio tanto dinheiro?
Simples: grande parte é proveniente dos impostos. E o prémio de crescimento vai
para... os impostos indiretos, de onde se destaca com o maior crescimento
percentual os impostos sobre os combustíveis, que subiram uns inofensivos 28%!
Uma pequena ninharia que, certamente, empresas e famílias não sentiram no
bolso.
O governo, na sua infindável
criatividade, encontrou formas de equilibrar as contas: não reformando nem
melhorando a gestão, mas sim com o aumento da receita fiscal e adiando
pagamentos a cidadãos, instituições e empresas.
E depois há a questão dos
salários na administração regional, que cresceram 8%, alcançando os 720 milhões
de euros e representado mais do que metade de toda a despesa regional. Nada
como uma Região robusta, mesmo que as ineficiências e queixas sobre a falta de
pessoal na saúde e educação continuem a crescer, enquanto que os cargos de
nomeação política florescem como hortênsias na primavera açoriana. Há quem diga
que são as vicissitudes de uma governação a três, porque um governo de
coligação não se faz só com boas intenções, faz-se também com muitos lugares à
mesa.
Como se não bastasse, os juros da
dívida resolveram juntar-se à festa, crescendo uns simpáticos 30% no último ano
e atingindo os 74 milhões de euros. Que melhor forma de demonstrar o
compromisso da Região com o crescimento… do endividamento? É o apregoado modelo
de desenvolvimento sustentável, só que ao contrário.
E há o PRR, essa generosa
torneira sem precedentes de fundos, que deveria servir para transformar os
Açores num oásis de produtividade e inovação. No entanto, o que se vê é uma gestão
que lembra aqueles turistas que gastam tudo numas boas férias e acabam a pedir
emprestado para pagar o café.
Mas tudo envolto em modernidade e
tecnologia, ainda que decidido à pressa, com ganhos modestos para a economia e
um impacto limitado no verdadeiro desenvolvimento sustentável da Região.
Por fim tempera-se com a culpa e
a desculpa. Duas palavras que, muitas vezes, se entrelaçam, tornando-se
instrumentos de manipulação e defesa.
A culpa, como sempre, fica só com
os outros; a desculpa, com quem não tem coragem de assumir falhas e de
enfrentar a mudança.
Até lá, resta-nos apreciar o
espetáculo e esperar que o último a sair ainda tenha luz para apagar.
E que nunca nos falte a ironia,
para gerir esta montanha russa financeira sem azia.
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