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Aeroportos do Triângulo

Li no Blogue “Cais do Pico” um artigo que pretendia demonstrar como os Aeroportos do Triângulo servem o conjunto das 3 ilhas, para assim identificar qual o que melhor as serve. Percebi logo pelas variáveis selecionadas (e ignoradas) o seu objetivo. É perfeitamente normal que um ilustre académico da área das telecomunicações, natural do Pico, 1º subscritor da petição para o aumento da operacionalidade do Aeroporto do Pico, publique no seu blogue um “estudo” realizado por si, com as variáveis que entendeu, mesmo não sendo especialista na área em apreço. Estou certo que mesmo que o leitor não o tenha lido, já percebeu a conclusão do mesmo. É quase como pedir ao Pinto da Costa um estudo sobre qual o melhor clube de futebol.O que já acho questionável é que o mesmo tenha destaque na RTP-Açores, sendo apresentado com se fosse algo realizado por uma entidade especializada em estudos aeroportuários.
Concordo com a necessidade de este conjunto de ilhas ser condignamente servido com ligações para o exterior. Acho, no entanto, discutível que o mesmo tenha que ser feito destacando um aeroporto e principalmente que o mesmo seja indicado apenas pelo pressuposto que é o mais central e com menores distâncias para qualquer ponto do Triângulo. Para tal o referido estudo apresenta os tempos máximos e médios, mas para facilitar, vou excluir os resultados de São Jorge visto que não é uma gateway para o exterior e apresenta os piores resultados na métrica utilizada. O estudo parte do princípio que os passageiros de/para São Jorge utilizam o barco para apanhar voos via Pico ou Faial (o que prejudica mais os tempos do Faial), quando todos sabemos que preferem um voo via Terceira, de 15 min, com mais ligações e destinos.
Como a Ilha do Pico é a maior, obviamente que a distância do Aeroporto da Horta ao ponto mais afastado do Pico é maior que a alternativa contrária. Mas também facilmente percebemos que o número de residentes/turistas que chegam ao Aeroporto da Horta e têm como destino a Calheta de Nesquim é residual, bem como o número dos que chegam ao Pico e pretendem ir para a Praia do Norte, já para não falar que o estudo não tem em consideração a espera/disponibilidade do transporte público/privado terreste. Se seguíssemos apenas essa métrica, a nível nacional o novo aeroporto não seria na região de Lisboa mas sim no Aeródromo de Fátima, porque é o mais central e com menores distâncias para qualquer ponto do País, já para não falar que nos Açores o principal aeroporto seria em São Jorge e não em São Miguel! Em relação aos tempos médios, que têm em consideração a densidade populacional de cada freguesia, só é pena que não tenha tido em conta a preferência de quem nos visita, como o nº dormidas e hóspedes por freguesia/ilha. No estudo o Aeroporto do Pico apresenta uma duração média ponderada de 2h44m, contra 2h54m do Faial. O autor do mesmo chega à conclusão que por 10 min na duração média de uma viagem para qualquer freguesia do Triângulo, o Aeroporto do Pico é o que melhor serve as 3 ilhas e que deveria ser dotado com capacidade para tal. Pouco importa que o principal problema operacional do Pico não seja o tamanho da pista mas sim a Montanha e o vento Sul e que isso nunca mudará, ou que as autorizações de aproximação são fornecidas pela torre da Horta.
Tomando apenas a frágil métrica analisada, 10 min são irrelevantes e convém referir que todos os barcos das viagens no Triângulo permanecem sempre no Faial, com a primeira e a última viagem realizada de e para o Faial. Acresce que o autor ignora o facto do Aeroporto da Horta ter quase o dobro de passageiros desembarcados em relação ao Pico, 104348 contra 59363 em 2016. E se é certo que o aeroporto do Pico foi o que mais cresceu no último ano, e para o qual contribuiu o aumento de voos para o Continente (enquanto que para o Faial diminuíram), os voos internacionais da TUI (operação já cancelada) e também pelo aumento de desvios de voos do Faial (a ser colmatado com o sistema RISE este ano), também é verdade que mesmo assim, o Aeroporto da Horta, atingiu em 2016 o seu valor recorde, com 221439 passageiros (123326 no Pico). Isto no ano em que existiu um n.º anómalo de cancelamentos da SATA para o Faial.
Poderão argumentar que tendo o Faial mais voos, alguns dos passageiros desembarcados são do ou para o Pico. Centremos então no nº de hóspedes em 2016, com 57588 no Faial e 29625 no Pico, ou então as dormidas (disponível até Novembro), em que o Faial apresenta 138855 e o Pico 89474.
Sou dos que acredita no desenvolvimento e complementaridade das duas gateways, para o bem do Triângulo, mas não podia deixar de manifestar a minha estupefação perante o denominado estudo. Podia enumerar variadíssimas vantagens do Aeroporto da Horta em relação ao Pico, mas a incitação de rivalidades no Canal só serve aqueles que temem o potencial do Triângulo ou que pretendem tirar dividendos partidários nestas ilhas.

(publicado no dia 17 Fevereiro de 2017 no Tribuna das Ilhas)

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