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Redes sociais e Fake News

As Fake news (distribuição deliberada de desinformação) não foram inventadas pelas redes sociais, nem pelos serviços de propaganda russos ou nas presidenciais norte-americanas. Sempre existiram. Não são uma novidade na sociedade, mas a escala a que são produzidas e difundidas no mundo digital, elevaram as mesmas para um novo patamar. Estamos perante uma nova “indústria” com empresas que produzem e disseminam Fake News com o intuito de “caçar” visualizações a qualquer custo, utilizando para tal, todos os recursos disponíveis para envolver o maior número de pessoas possível, sem estas saberem que estão a ser utilizadas como peça chave para essa difusão. 

A novidade tem sido a utilização de dados pessoais dos utilizadores das redes sociais para melhor fazer chegar este tipo de informação. 
Recentemente tivemos conhecimento da polémica que envolve a maior rede social do Mundo – Facebook – e a Cambridge Analytica, uma empresa de recolha e tratamento de informações sobre eleitores. Em causa está a acusação de que a empresa recolheu informações pessoais de milhões de utilizadores do Facebook, construindo depois modelos para explorar aquilo que sabiam sobre os mesmos. O objetivo era desenvolver perfis psicográficos de potenciais eleitores com base na sua atividade online, para que fosse possível bombardear esses eleitores com propaganda mais eficaz (em muitos casos abusando das Fake News) durante uma campanha eleitoral. 

A ser verdadeira a acusação, estamos a falar de algo totalmente reprovável. Mas sejamos sinceros, não são as redes sociais ou as fakes news que ganham eleições. Quanto muito é a ignorância das pessoas que não conseguem distinguir uma “notícia” proveniente de um site de fake news, de uma notícia de um órgão comunicação social (OCS) credível. 

Se é certo que a utilização destas ferramentas é algo assustadoramente manipulador, não menos preocupante é a iliteracia política, a ausência de hábitos de consumo de comunicação social de qualidade, bem como o comportamento dos pais que não incutem nos filhos a importância da informação credível, o pensamento crítico e o debate de ideias. Parece impossível que ainda exista quem acredite que tudo o que se lê nas redes sociais é verdadeiro! 

Acresce a toda esta problemática o facto de os próprios OCS de referência, por motivos económicos, estarem progressivamente a perder qualidade, indo atrás do clikbait com títulos sensacionalistas para atrair leitores. 

Vejamos o exemplo de uma capa de um jornal de referência com o título “ Carga fiscal atingiu o valor mais alto dos últimos 22 anos”. Ao ler este título, massivamente partilhado pela oposição, o leitor que não sabe interpretar dados de natureza financeira (ou que só lê os títulos), fica com a impressão que o atual Governo aumentou os impostos e como tal a austeridade. Não só não é verdade, como o esforço fiscal de cada português diminuiu. 
A carga fiscal mede o peso da receita fiscal no PIB, como a recolha de impostos cresceu a um ritmo superior à subida do PIB, o resultado é um aumento da carga fiscal. Mas mais importante, o aumento da receita fiscal não se deveu a uma eventual subida de impostos, mas sobretudo ao aumento do emprego e do consumo das famílias. Existindo mais pessoas a trabalhar, significa mais trabalhadores e empregadores a pagar impostos, bem como, devido à retoma do crescimento económico e ao facto das pessoas terem mais rendimentos disponíveis, ter sido potenciado o aumento do consumo interno, o que implica um aumento da maior fonte de receita, o IVA. Mas esta explicação não daria um título sensacionalista para chamar a atenção do leitor. 

A aposta na educação digital, nos bons hábitos de consumo de informação e literacia política, são ferramentas essenciais para fortalecer ainda mais a liberdade de expressão, o uso democrático da internet e a própria democracia.

(publicado no jornal Tribuna das Ilhas  em 06/04/18)

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