Avançar para o conteúdo principal

Deambulações do dia-a-dia (sociais e políticas)


1 - Sais de manhã, trabalhas, vais almoçar ao bar num ápice.
Uma senhora de idade, sentada ao teu lado, olha para a televisão e começa a falar contigo sobre o que se passa lá. Atiras uma frase. Ela insiste. Estás com pressa mas falas com ela sobre o assunto da televisão. A seguir, ela conta-te as suas aflições. Tu tens pressa, mas não queres ser indelicado. Cedes a ouvi-la: os problemas de saúde, os filhos, o dinheiro, um vizinho que põe a música altíssima. 
Lembras-te de Eça procurando apaziguar o espanto: "O que não contas ao teu amigo conta-o a um estranho, na estalagem". 

2 – Passados 7 anos e 3 meses, as três principais agências de rating colocam a dívida portuguesa no grau de investimento de qualidade. 
Fica para a história que foi no governo liderado por António Costa que as agências de rating retiraram a dívida pública de Portugal do LIXO. Um governo do PS, com o apoio de PCP, BE e Verdes, a apelidada esquerda radical, que ia afugentar investidores e empresas e fazer com que os mercados penalizassem o País. 
Muitos foram na conversa de que a culpa do estado a que chegámos foi de um único governo, partido ou pessoa (vejam lá que é arguido, está tudo explicado). E não da crise financeira mundial, de problemas estruturais e da arquitetura do euro, incapaz de lidar com a situação. Achavam que as coisas mudavam com a colocação no poder de gente com aparência austera e com um discurso e política negativa para os cidadãos. Um membro do antigo Governo chegou mesmo a dizer que bastava o PSD assumir o poder que o rating subia logo. A realidade provou que, com a chegada do PSD/CDS, o rating não só não subiu, como desceu consideravelmente, comprovando o quão enganadora e simplista era essa argumentação da origem e da solução para a crise.

3 – No hipermercado alguém perguntou a alguém: 
- Tudo bem? 
Oiço como resposta: 
- Tudo super bem! 
Olhei para quem disse “Tudo super bem!” e vi autenticidade. 
Parece que é pecado hoje em dia ser feliz. A lamúria foi instituída como condição-natural. 
Ainda bem que há pessoas “Tudo super bem!” e sem vergonha de se expressar. 

4 – Todos nos lembramos das afirmações de Passos Coelho, quando referiu que o aumento do salário mínimo provocaria desemprego e que o ideal até seria reduzir. 
O salário mínimo esteve estagnado entre 2011 e 2014 nos 485€. Foi progressivamente aumentando nos últimos 4 anos, passando para os 580€ com a atual governação (609€ nos Açores). Para 2019 vai aumentar novamente para os 600€ (prevê-se 630€ nos Açores). Portanto estamos a falar de uma subida de cerca de 24% nos últimos anos. O desemprego, esse, reduziu para metade. 
Também em função disso, e segundo estudos apresentados, houve aumentos salariais médios em todos os escalões de trabalhadores que permaneceram no mesmo posto de trabalho entre 2016 e 2017. 
Um facto interessante é que, em 2018, a subida do salário mínimo não fez aumentar a percentagem de trabalhadores abrangidos. O risco de cada vez ficar mais gente a ganhar o salário mínimo, porque os que estavam a ganhar acima disso não sobem, foi esbatido. Isso é importante e só é conseguido com subidas com conta peso e medida. 
Pedir um aumento do salário mínimo superior ao já anunciado pelo Governo, como fez recentemente o PCP, soa apenas a propaganda para agradar o eleitorado e distanciar do atual Governo que viabilizou. 
Tenho a certeza que se o aumento do Governo fosse para os 650€ estariam a pedir 700€…c’est la politique!

(artigo publicado na edição de 19/10/2018 do Tribuna das Ilhas)

Comentários

Top 10 dos artigos mais lidos

O Faial duplamente a ganhar

O “spinning” da informação

A Estabilidade Governativa

Autárquicas de corpo e alma

Um dia negro para os Açores

O infortúnio do Mestre Simão

“Pensar é difícil, é por isso que as pessoas preferem julgar”

Aeroporto da Horta - O antes e o depois

Pordata - O Retrato do Faial

Vox populi - Habemus Presidentum!