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Para além do óbvio

Na maioria das vezes não somos sensatos o suficiente para vislumbrar o que está para além do óbvio. O tempo mediático da informação, onde os media sociais e a sua interação dominam a atualidade informativa, pouco tempo deixa para a reflexão, o que porventura adensa a necessidade para conclusões imediatistas. 

Cingimo-nos a dois acontecimentos mediáticos recentes, de onde proliferaram títulos, partilhas e comentários incisivos. 

1 O Presidente da República decidiu fazer um telefonema na estreia de um programa de televisão da mais famosa (e bem paga) apresentadora da TV portuguesa, com o objetivo aparente de desejar-lhe boa sorte. Um tema apetecível para os media sedentos de visualizações que obviamente “viralizou”. 

O ato é sem dúvida de um populismo sem precedentes, mas arrisco a dizer que porventura até é necessário (para o País e obviamente para o próprio) ou não fosse Marcelo Rebelo Sousa uma mente que respira estratégia em cada passo que dá. 

Ao canalizar o populismo em Portugal para si, impede que o mesmo divague para outras correntes problemáticas, como se tem verificado em vários pontos do Mundo Ocidental. 

Acresce que marca pontos com o eleitorado dos programas da manhã, que são dos que mais votam e também dos mais influenciados por correntes populistas. Acentua, no entanto, a crítica na corrente mais à direita, aquela que já estava entristecida com o facto de o mesmo dar (até agora) mais importância ao País que ao partido, no constante apoio à solução governativa atual. 

Um Presidente devia evitar este tipo de exageros? Sim, mas vivemos uma nova e assustadora realidade e só quem anda muito distraído é que pode considerar que a palavra "exagero" existe na corrente populista da direita nacionalista e radical que prolifera no Mundo hoje em dia. Basta ver a estratégia e o discurso do que se passou nos EUA, Brasil, Itália, Hungria, Turquia, Polónia, etc. 

Sim, o nosso Presidente utiliza um estilo que se assemelha aos populistas que critica, mas sem a carga da ideologia assustadoramente problemática. É aquilo a que se pode apelidar de um populismo benigno dos afetos. 

Tenho a certeza que a maioria dos portugueses prefere o populismo benigno de Marcelo ao perigoso do Trump, Bolsonaro, Erdogan, Orbán, Salvini e restantes amigos. 

No Verão passado o Miguel Sousa Tavares disse uma frase que para mim faz todo o sentido "O Presidente da República desarmou o populismo (em Portugal), andando à frente do populismo". 

2- Um outro tema que proliferou na agenda mediática foi a candidatura de Luís Montenegro à liderança do PSD. O ex- líder parlamentar do PSD na governação de Passos Coelho, justifica a sua decisão para evitar uma “derrota humilhante” do partido. Isto quando há poucos meses referira que “Nunca farei a Rui Rio o que António Costa fez a Seguro” e que “O País fica em muito melhores mãos com Rui Rio do que com António Costa”. É caso para dizer…bem prega Frei Tomás. 

O que o terá levado a mudar drasticamente de opinião, abrindo o flanco para ataques de falta de coerência e de timing suicida? 

Na minha opinião foi empurrado a fazer esse papel de troca-tintas pela turba dos Passistas, que daqui a poucos meses seria excluída das listas de Rui Rio. 

Se Rui Rio não tem hipótese nas próximas legislativas, o PSD com Montenegro menos hipóteses tem, como tal, estamos a falar de pura sobrevivência ao “tacho” e da manutenção de uma corrente de poder bem viva no interior do partido. 

As consequências deste estado de guerra (ideológica) interna é que podem ser perigosas, não só para o partido mas sobretudo para o País, nomeadamente com o descrédito de um partido de centro-direita, que é fundamental para a nossa democracia e que tem, de certa forma, impedido uma deriva mais radical de algum eleitorado de direita. Algo que infelizmente parece estar em voga em muitos pontos do globo.

(artigo publicado na edição de 18-01-2019 do Tribuna das Ilhas 

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