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Vícios e Congressos

Costumo dizer em tom de brincadeira que sou ”viciado” no Benfica, atualidade política e redes sociais. As redes sociais, entre outras coisas, servem também para acompanhar e extravasar os outros 2 vícios. O Benfica (e o futebol) de uma maneira apaixonada e descontraída, e a atualidade política de uma forma mais racional e fundamentada. Já me disseram que sou especialista em futebol de sofá e em política de computador, com muita leitura, discussão e opinião sobre os temas. E ainda bem que assim é, uma vez que considero que não tenho perfil nem talento para jogador ou político. E nestas coisas sempre me fascinou mais o trabalho “por trás das camaras” que propriamente o lugar de “ator principal”, ou como diria um amigo da política, de papagaio carismático do soundbite.

Esta divagação vem a propósito do recente congresso do PSD-Açores. Como é habitual, segui com alguma atenção, mas poucas foram as vezes que presenciei um congresso tão atípico e sem chama. Obviamente que depois de (mais) uma derrota e com a mesma liderança, não se esperaria um congresso de exaltação e ideias fortes, mas seria de esperar um congresso de união interna, introspeção, de propostas estruturantes, de uma nova via para o partido e consequentemente para os Açores. Mas não. Para além das novas figuras eleitas para os órgãos do partido (que agora aumentam, depois da estratégia ter sido a diminuição), da recorrente tecla da renovação, que tantas feridas internas trouxe, a verdade é que o que se debatia com jornalistas, comentadores e congressistas era a liderança (de um líder recentemente reeleito!), a ausência de ex-líderes do partido, as críticas, os afastamentos, a falta de empolgamento no congresso. Mais estranho ainda é o facto de um dos momentos mais emocionantes ter sido o episódio de Duarte Freitas, exaltado, a jurar pela saúde dos filhos, que não tinha recebido indicações a nível nacional para listas e tomada de decisões nos Açores, isto depois de ter sido acusado do mesmo por um militante no congresso. Ficou claro em algumas intervenções e na maneira fria com que foi recebido, que Duarte Freitas não convence nem empolga verdadeiramente o partido. O discurso foi de agregação e de “oposição ativa”, mas das palavras aos atos ainda vai uma distância considerável. A pergunta que fica no ar é: Se Duarte Freitas não consegue convencer categoricamente o partido, vai conseguir convencer o eleitorado Açoriano? Fica-se com a impressão que é o líder possível e não o desejado. O líder para a travessia do deserto que ninguém quer neste momento fazer. Mas à primeira miragem de um oásis, estou certo que outras figuras irão aparecer, como José Bolieiro ou Alexandre Gaudêncio.
Começou com um discurso de humildade e de união do partido, curiosamente vindo de alguém que é acusado de o ter desagregado com a sua estratégica renovação. Foi coerente com o que sempre referiu, afirmando que não se demite e que quer reerguer o partido. Mas no seu discurso foi óbvio que não fez a devida introspeção dos resultados eleitorais, uma vez que considera que o principal responsável pela derrota não é o PSD ou a sua estratégia, que nitidamente não foi aceite ou compreendida pelo eleitorado. Ao que parece entre os principais culpados estão os órgãos de comunicação social, acusando-os de escrutinar mais o partido da oposição que o Governo, bem como os funcionários públicos que refere como alinhados com o Governo. Berta Cabral foi mais longe e chegou mesmo a referir que “os Açorianos estão num estado vegetativo".
Apontou como objetivo para este ano a maioria das Câmaras, um resultado que não me parece concretizável, quando atualmente tem apenas 4 das 19 existentes. Demonstra ambição, mas abre o flanco para os seus adversários e para mais uma provável derrota pessoal.
Um partido com a importância do PSD tinha o dever e a responsabilidade de apresentar medidas substantivas para um programa de governo alternativo. O que apresentou foram medidas avulsas para alguns sectores, nada de estruturante ou que se possa considerar um caminho diferente do atual governo. Assim é difícil ser alternativa credível.
Voltando ao início e mais uma vez em tom de brincadeira, diria que se a continuação da liderança de Bruno de Carvalho é a garantia de mais títulos para o meu Benfica, a liderança de Duarte Freitas é a garantias de mais vitórias para os Socialistas. 

(publicado no dia 3 Fevereiro de 2017 no Tribuna das Ilhas

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