Era minha
intenção explanar neste texto as medidas previstas para o Plano Regional para
2018, mas vou deixar esse tema para um próximo artigo. Irei apenas debruçar-me
sobre algo que já há algum tempo me intriga e que, sistematicamente, é
utilizado por diferentes intervenientes com responsabilidades políticas no
Faial, ano após ano, em artigos de opinião na comunicação social.
Refiro-me
concretamente à comparação que constantemente fazem entre o valor anual de
investimento orçamentado para a ilha do Faial e o valor executado, passando a
ideia que o Faial é prejudicado, deixando subentendido que em benefício de
outras ilhas.
Os dados
apresentados são corretos, mas comparar a proposta de orçamento com execução
orçamental é quase como comparar “alhos com bugalhos”. Só se deve comparar o
que é verdadeiramente comparável, ou seja, o executado com o executado e o
orçamentado com o orçamentado. Sendo obviamente mais importante os valores
executados.
Não conheço
nenhuma empresa, associação, ou governo em que o valor previsto no orçamento é
igual ao executado. Porque como o nome indica estamos a falar de uma previsão,
e como tal falível, dependente de diversas variáveis, muitas delas imprevistas,
indiretas ou externas.
Ora, a comparação
de uma previsão orçamental com o executado só serve para verificar que a
previsão estava mais ou menos afastada do realmente vivenciado em determinado
ano.
O que nunca se
pode concluir é que o plano orçamentado para determinada ilha ou área de governação
sobe ou desce, comparando com o executado, ou vice-versa.
É quase sempre
referido que os planos regionais até preveem a larga maioria das necessidades e
anseios da ilha, mas que somos prejudicados na sua execução. Acontece que para
tal, nunca apresentam os dados das restantes ilhas, dando a entender que se
está a bloquear o investimento público previsto no Faial para benefício de outros
(estou certo que o leitor já ouviu ou comunga da mesma ideia). Assim, convido-o
a ver a tabela em que compilei a média da percentagem da execução orçamental dos
últimos 4 anos disponíveis, nas diferentes ilhas e no total da Região (inclui o
valor de investimento não desagregado por ilha – ND).
|
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TAB 1- MÉDIA
INVESTIMENTO PÚBLICO EXECUTADO POR ILHA 2013-2016
|
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||||||||
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SMA
|
SMG
|
TER
|
GRA
|
SJO
|
PIC
|
FAI
|
FLO
|
COR
|
ND
|
RAA
|
Executado
(%)
|
35,8
|
57,9
|
46,5
|
29,6
|
38,7
|
47,7
|
47,9
|
29,9
|
18,8
|
64,5
|
50,3
|
Com os dados da
tabela 1, podemos concluir que o Faial é a segunda ilha com maior taxa de
execução, apenas atrás de São Miguel, obtendo valores ligeiramente superiores
ao Pico e Terceira, e bem distante dos valores mais baixos de execução de São
Jorge, Santa Maria, Graciosa, Flores e Corvo.
Conclui-se
também que a execução do investimento público na Região é cerca de 50% do
previsto, sendo também esse o valor aproximado obtido para a ilha do Faial
(47,7%). Como também a nível nacional, desde 2010, se verificou a redução acentuada
do investimento público.
Ao efetuar o
cálculo do investimento público per
capita em igual período, verificamos que em média são executados 1440€/ano
por Açoriano. Obtendo-se um valor de 1886€ por Faialense, um mínimo de 1006€
por Micaelense e um máximo de 3514€ por Corvino, não sendo este também um
parâmetro a ser analisado isoladamente, como alguns adeptos da centralização de
mais verbas em São Miguel por vezes apregoam. Obviamente que o valor é superior
nas ilhas com menor população e inferior nas de maior, tendo em conta a nossa
realidade arquipelágica e as necessidades essenciais em todas as ilhas. Por
isso é que no Corvo o investimento per
capita é de longe o maior, apesar da percentagem de execução ser baixíssima
(18,8%).
Como
anteriormente referi, devemos comparar o que é comparável. E para a ilha do
Faial verificamos que nos últimos 4 anos o valor previsto em orçamento tem uma
tendência de aumento e o que realmente importa, o valor efetivamente executado,
um tímido aumento em igual período, que se prevê que continue. Importa referir que
o valor executado apresenta uma descida face a 2014 e sobretudo 2013, período
associado ao maior investimento efetuada no Faial nos últimos anos.
TAB 2 – INVESTIMENTO PÚBLICO NO FAIAL 2015-2018
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||
FAIAL
|
Orçamentado
(milhões
euros)
|
Executado
(milhões euros)
|
2015
|
57,1
|
23,2
|
2016
|
58,2
|
23,6
|
2017
|
61,9
|
Em
execução
|
2018
|
61,7
|
A
executar
|
Estou ciente que,
com este tipo de abordagem, vou em “sentido contrário” à opinião dominante no
Faial. E que é sempre mais fácil ter a aprovação popular quando se pega em
temas que à partida trazem grande unanimidade, como fiz com alguns dados concretos
sobre o grupo SATA no serviço para o Faial, demonstrando a utilização de alguns
argumentos ilusórios para se provar apenas o que dá mais jeito. Mas não sendo
político, a aprovação popular de pouco me importa, sendo o princípio que me
norteia sempre o mesmo.
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