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Os Pequenos “Ditadores” do Atlântico

Nos Açores, terra de beleza avassaladora e genuinidade, surge um paradoxo político desconcertante: a democracia insular, por vezes, parece governada por alguns egos com mais altitude que os vulcões locais. Pequenos “ditadores”, de discurso inflamado, não apenas evitam a crítica como a atacam com vigor digno de melodrama.

Criticar o governo tornou-se um ato de coragem. Quem se atreve a apontar falhas – sejam cidadãos comuns ou responsáveis de instituições locais – rapidamente encontra o seu nome arrastado pela lama da política de difamação e desqualificação. A ironia? Esses pequenos Napoleões açorianos, supostamente defensores da transparência e da democracia, demonstram uma fragilidade alarmante quando confrontados com uma simples discordância.

Que fique claro que não se está a confundir o todo com as partes, mas os exemplos multiplicam-se em alguns protagonistas. A fórmula é sempre a mesma: um cidadão reclama de um serviço público que não funciona, um líder de uma instituição local sugere melhorias, e logo se ouve o disparo verbal. A resposta, em vez de diálogo, é um ataque: "Incompetente!", "Desinformado!", “Mentiroso”, ou, ainda, o infalível "Populista!" para desacreditar a opinião alheia. Afinal, quem são eles para questionar a autoridade inquestionável do poder instalado?

Sob o disfarce da indignação surge uma retórica autossuficiente: “Estamos a fazer o melhor para a Região” ou “Quem critica não compreende os desafios”. Mas será que os desafios são a falta de soluções ou a falta de capacidade para lidar com as vozes discordantes? Governar não é um monólogo, embora alguns achem que a política local deveria ser um palco só deles.

Se há uma ironia na política açoriana, ela reside na facilidade com que os pequenos “ditadores” se vitimizam, quando antes eram implacáveis a criticar. Em cada crítica, enxergam conspirações; em cada protesto, veem sabotagem. E assim, transformam a oposição legítima em inimigos públicos a silenciar ou derrubar.

Pior ainda, esse estilo de liderança não é apenas autoritário, mas contraproducente. O medo que inspira reprime a participação cidadã e mina a confiança nas instituições. E como se já não bastasse, o discurso de difamação e ataques pessoais apenas reforça o descontentamento e o afastamento da população.

A grande ironia, no entanto, é que esses pequenos “ditadores” se esquecem de que o poder político é tão transitório quanto as marés que banham as nossas ilhas. A História sempre reserva um lugar especial para aqueles que confundiram liderança com controle e voz popular com subversão.

Nos Açores, não pode haver espaço para governantes que tentam denegrir e silenciar quem ousa discordar. A democracia açoriana deve ser um farol de pluralidade, onde o confronto de ideias, fortaleça, e não enfraqueça a construção de uma sociedade verdadeiramente livre e inclusiva. A democracia, mesmo sob as nuvens cinzentas das atitudes autoritárias, tem que continuar a ser o maior vulcão destas ilhas: latente, poderosa e sempre pronta a fazer valer a força da liberdade de expressão.

Façamos assim todos a nossa parte.


(artigo publicado na edição de 22/11/2024 do Tribuna das Ilhas) 

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