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Faialenses ganham mais 369€ por ano do que a média nacional

Vem este artigo a propósito do recente trabalho desenvolvido pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), sobre os rendimentos medianos dos portugueses.

Os resultados apresentados baseiam-se nos indicadores de rendimento declarado no IRS de 2017, mais concretamente em dados fiscais anonimizados da Autoridade Tributária e Aduaneira.

Como é normal nestes casos, o feedback que advém destes estudos na comunicação social, centra-se nas médias nacionais e em comparações a nível de regiões ou no valor mais alto e mais baixo detetado por município. Dito de outra forma, ficamos com o resultado dos Açores como um todo e podemos comparar com outras regiões ou com a média nacional. 

Para aqueles que, como eu, são mais curiosos, têm que ir procurar nos documentos originais e nos “lençóis” de Excel disponibilizados pelo INE, para ter dados relativos à nossa ilha/município.

Isto porque, como todos bem sabemos, os dados dos Açores, muitas das vezes refletem a realidade da ilha onde residem cerca de metade dos habitantes o que nem sempre corresponde à realidade de cada uma das restantes ilhas.

Basta pensar no caso do rendimento social de inserção (RSI), em que os Açores são sistematicamente apresentados com o valor percentual mais elevado do País, quando é sabido que o mesmo se deve aos elevados valores registados em alguns concelhos de São Miguel e que, ilhas como o Faial, têm valores idênticos à média nacional (3,2%) e consideravelmente abaixo dos 15,5% registados em São Miguel (dados de 2017). O mesmo se verificou a nível da taxa de desemprego, que em 2017 se situava nos 4,4% no Faial, bem inferior aos 9% a nível Açores ou aos 8,9% a nível nacional.

Voltando ao tema importa referir que, em 2017, o valor médio do rendimento bruto declarado por sujeito passivo em Portugal foi de 12.514€. 

Analisando as duas regiões autónomas, podemos verificar que nos Açores o valor se fixou nos 11.854€. Já na Madeira, o rendimento bruto declarado médio por sujeito passivo foi de 12.042€. 

Nos Açores o município com os valores mais elevados é Vila do Porto com 14.490€, sendo seguido por Ponta Delgada com 13.880€ e Horta com 12.910€, todos eles acima da média nacional. É na Povoação e no Nordeste que o rendimento bruto declarado médio por sujeito passivo é mais baixo, com os valores de 8.291€ e de 8.413€, respetivamente.

Dos dados apresentados, podemos concluir que, em média, os Faialenses ganham mais 369€ por ano do que a média nacional e mais 1056€ por ano do que a média regional.

Como se trata de uma média, poderia dever-se a uma elevada desigualdade de rendimentos, em que uma minoria que ganha muito bem faz disparar a média no município da Horta. Para analisar esta possibilidade temos que analisar o Coeficiente de Gini, o indicador habitualmente utilizado para sintetizar o grau de desigualdade na distribuição do rendimento, que assume valores entre 0 (quando todos os sujeitos passivos têm igual rendimento) e 100 (quando um único sujeito passivo recebe todo o rendimento).

Com os dados disponibilizados pelo INE, verificamos que o município da Horta obtém um valor de 26,4%, valor esse que é abaixo da média nacional (26,7%) e regional (28,1%). Já no caso da Vila do Porto (que obteve o rendimento médio mais elevado dos Açores), este coeficiente atinge um expressivo 33,3%, nada mais nada menos que o valor mais elevado em todo o País! Salientar também que o Município de Ponta Delgada é o oitavo município com maiores desigualdades de rendimentos no nosso País. 

Resumindo, não só temos dos rendimentos médios mais altos dos Açores e acima da média nacional, como o mesmo não advém de uma elevada desigualdade salarial.

Uma das possíveis explicações para este facto pode ser o peso que a administração pública tem na população ativa Faialense.

(artigo publicado na edição de 16-08-2019 do Tribuna das Ilhas

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