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Confinamento e Desconfinamento

No anterior artigo, referi que compreendi a antecipação e o excesso do zelo das autoridades de saúde nos Açores. Foi importante devido à nossa realidade arquipelágica e a dificuldade em ter uma resposta adequada espalhada por 9 ilhas, mas temos que aprender a viver nesta nova realidade, adaptando à nossa especificidade.

Fez-se um bom trabalho na contenção da pandemia. Os números não enganam. À data que escrevo temos sete ilhas sem casos ativos de COVID-19, restando apenas o Pico (1 caso) e São Miguel (8 casos). Nenhum caso necessita de internamento hospitalar e nenhum utente de lar de idosos está infetado. 



Ao contrário do resto do país testamos toda a comunidade escolar (professores, alunos e trabalhadores não docentes) e os profissionais das valências de apoio social. Impomos varias opções de quarentena para quem vem do exterior, associada a vários testes, conforme a opção escolhida ou a duração da estadia. 

Aliás, se há algo que é claro para todos é a importância de “testar, testar, testar”, tendo em conta a quantidade de casos assintomáticos. Nesse campo destacamo-nos pela positiva. Se Portugal já é conhecido como um dos países que mais testa, com 6772 testes por cada 100 mil habitantes, os Açores conseguem ainda melhor, com 8121 testes por 100 mil habitantes, tendo a Madeira 3910 por 100 mil habitantes. 

O confinamento resultou. A ilha do Faial está há 56 dias sem novos casos positivos e o Pico há 47 dias. Estas 2 ilhas tem uma ligação umbilical que não existe em mais nenhum lugar da Região. Seja por questões de saúde, familiares, de trabalho ou de turismo, são quase 500 mil passageiros que atravessam o canal todos os anos. 

Todos compreenderam as restrições no canal, mas com quase 2 meses sem casos e com todas as medidas existentes, é com alguma estranheza que ainda se verificam as proibições nesta travessia, que atualmente é apenas possível por questões de saúde ou profissionais (felizmente já sem quarentenas). Estou ciente que a avaliação será feita antes do fim do mês, e por isso acredito que a mesma será resolvida dia 1 de junho. Torna-se difícil compreender que numa ilha como São Miguel, com ligação ao exterior e com casos ativos, seja possível usar um transporte coletivo para fazer longas viagens entre concelhos e não seja possível utilizar um transporte coletivo para fazer uma curta viagem de barco entre 2 ilhas (isoladas) e que têm apenas 1/5 da população de São Miguel. 

Será que os 8,3 km de mar que separam os 15 mil habitantes isolados do Faial, dos 15 mil isolados do Pico, acarreta maior risco do que os 22 km de terra que separam os 35 mil habitantes de Angra, dos 21 mil da Praia e que se deslocam sem nenhum tipo de controlo ou impedimento, numa ilha com ligação ao exterior? 

Percebo as restrições de voos para as ilhas sem Hospital e com reduzida capacidade de resposta. Mas o Faial é uma das 3 ilhas com Hospital e Unidade de Cuidados Intensivos, tendo também o terceiro aeroporto mais movimentado da Região.

Assim, para além da reposição dos voos inter-ilhas, já se justifica, a partir de junho, a realização de voos diretos com o exterior, com as medidas de controlo existentes em São Miguel e Terceira. Temos capacidade para controlar os passageiros, e capacidade hoteleira para as opções de quarentena, satisfazendo no mínimo, 1 a 2 voos diretos por semana.

Para além de servir as ilhas do triângulo, deixavam assim os doentes deslocados, principalmente estes, mas também profissionais, estudantes e outros residentes de ter de ficar 14 dias de quarentena noutra ilha, facilitando também a vinda controlada de não residentes. 

Aguardemos a análise das medidas implementadas até 31 de maio, a continuação dos bons resultados, que muito dependem do comportamento de cada um de nós, e esperemos que o mês de junho traga as medidas de desconfinamento desejadas. 

24/05/2020 

(artigo publicado na edição de 29/05/2020 do Tribuna das Ilhas)


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