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A política é a busca constante da nobreza na dissimulação


Nos EUA desenvolveu-se a tradição de os primeiros 100 dias de governação serem usados para fazer as primeiras análises ao trabalho desenvolvido. Tal ficou a dever-se a Franklin Roosevelt no decorrer da Grande Depressão. Desde esse tempo que, por todo o mundo, os 100 dias passaram a ser referência na avaliação de uma nova liderança.

Vivemos atualmente tempos conturbados, com a crise pandémica e a crise económica e social a ela associada. Em função disso, a ação do novo governo esteve focada na pandemia. E daí ressalta aquela que foi a cara do Governo neste período, o Secretário Regional da Saúde. Quem por estes tempos chegasse aos Açores, ficaria com a impressão que estávamos perante o responsável pelo Governo. Depois de um início em que teve dificuldade em deixar o registo de ex-líder parlamentar, vocacionado para o combate político, com o tempo, centrou-se na azáfama do seu cargo e tem desenvolvido um trabalho incansável e com bons resultados.

Com prova de ação estiveram também os membros do governo com experiência parlamentar, na maioria dos casos na aplicação de medidas do passado, bem como, perspetivando o futuro com promessas, ou não estivéssemos com uma governação em duodécimos. A estes há que acrescentar o Secretário das Finanças, que iniciou funções como um elefante numa loja de porcelanas, estando agora mais recatado na difícil tarefa de elaboração do novo orçamento da Região. Difícil pelo momento que atravessamos, pela multiplicidade de vontades a saciar (sociais, económicas e partidárias) e porque já percebemos que a “bazuca” que aí vem tem algumas munições com pólvora seca.

Mas passados 100 dias de governação, temos ainda Secretários que não dão qualquer sinal de ação e alguns até de vida. Seja pela pandemia, por estarem a estudar os dossiers, por alguma inaptidão ou receio de falar sobre os temas, a verdade é que chega a ser constrangedor.

Ausente, é a palavra que define a postura do Presidente do Governo Regional nestes primeiros 3 meses. Se é certo que a pandemia é o centro das atenções, seria de esperar que fosse a cara nos momentos de tomada de decisão importantes, como faz o Primeiro-Ministro no Continente ou o seu homónimo na Madeira.

Manteve a postura que tinha como autarca, elevação, disponibilidade e simpatia na procura de consensos, mas hesitante na tomada de decisões e com falta de clareza nos momentos difíceis. Para além dos discursos institucionais, tem feito o trabalho de retaguarda nos consensos da “caranguejola” de direita. Apesar de múltiplas tensões, nomeadamente na aprovação de diplomas na Assembleia, tem sabido aglutinar os 5 partidos no denominador comum, a aversão ao PS e a sede de poder. 

Exige-se mais a um Presidente do Governo. Da mesma maneira que se exige mais ao partido mais votado, o PS. É óbvio para todos que Vasco Cordeiro deve permanecer na liderança, mas urge mudar alguns protagonistas com a imagem desgastada na opinião pública, evitando assim o ruído constante de comparações ao passado, sempre que se pronunciam sobre algum tema. Precisa de se abrir mais à sociedade, de compreender os seus anseios e deixar de estar fechado nas suas elites e aos que à sua volta gravitam.

Outro destaque foi a recorrente temática dos “jobs for the boys” e respetivas teias familiares. Se antes era tema de arremesso, a verdade é que acabam todos por padecer do mesmo. Múltiplos foram os casos propagados ao longo destes 3 meses, com a agravante de termos o governo mais caro da história, de modo a aglutinar todas as vontades partidárias. Só no Governo vão ser gastos mais 8 milhões de euros com cargos de nomeação no decorrer da legislatura.

Ressalvo que nalguns casos é empolamento e que todas as nomeações são legais, como também eram anteriormente, mas onde andam aqueles que faziam deste tema cavalo de batalha e que afirmavam que “à mulher de César não basta ser seria, tem também de parecê-lo!”.

(artigo publicado na edição de 12/03/2021 do Tribuna das Ilhas)

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