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Tiros certeiros com pólvora seca

Era com alguma curiosidade que aguardava pelo Plano e Orçamento do novo Governo Regional. Não só para verificar eventuais novidades provenientes de novos protagonistas e novas ideias, mas sobretudo para verificar a capacidade de saciar a multiplicidade de vontades das diferentes forças políticas que apoiam o governo e a capacidade de revindicação das diferentes ilhas.

Ora, o Plano e Orçamento para 2021, como os anteriores, tem medidas que claramente são boas e outras menos boas, mas quero aqui debruçar-me sobre as que incidem exclusivamente sobre a Ilha do Faial.

Sendo certo que “Roma e Pavia não se fizeram num dia”, julgo que a maioria dos Faialenses aguardava um sinal claro para a nossa ilha no novo Plano e Orçamento: 1 º porque a ilha do Faial foi a única onde o PSD ganhou eleições; 2º porque durante anos o PSD sempre criticou ferozmente o atraso de importantes investimentos para o Faial; 3º porque as Autárquicas estão próximas e seria importante tentar demarcar diferenças.

Quanto ao 1º ponto, cedo se percebeu que, com a necessidade do PSD ceder a 4 forças políticas (nenhuma delas com grande robustez na nossa Ilha), ficaria o Faial numa 3ª divisão de capacidade de influência, bem atrás da habitual, e agora reforçada força de São Miguel e Terceira, mas sobretudo devido à entrada a pés juntos do Corvo e das Flores, com o poder do PPM.

Pelo Faial, quem se destacava com grande capacidade de influenciar a Governação, ficou com um cargo de relevo máximo, mas que, na realidade, tem a neutralidade e poder da “Rainha da Inglaterra”, a Presidência da Assembleia.

Em relação ao 2º ponto, de algum tempo para cá que existem 3 investimentos que estão sempre na ordem do dia: 2ª fase da Variante, Porto e Aeroporto. Quanto a estes, confesso que nem eu, que não sou adepto desta dependência Governativa, esperava tão desinfeliz resultado.

Na Variante, estando finalmente assegurado o seu financiamento através do Plano de Recuperação e Resiliência, aprovado pelo anterior governo PS e aceite pelo atual Governo, qual não é o espanto quando se tira novamente da cartola a jogada do “modificar o traçado”. Com a agravante que o traçado já estava incluído no Plano de Urbanização do Concelho, não tendo sido colocado em causa pelos deputados do PSD. Tínhamos finalmente projeto e financiamento, ambos aceites pelas principais forças políticas e a decisão do atual Governo foi…não avançar…

No que toca ao Porto, mantem-se a indecisão, mas pelas verbas alocadas, já se percebeu que não será desta que avança a obra, agravando-se assim seriamente a possibilidade de perder a dotação prevista no atual quadro comunitário e dando força àqueles que desejam uma maior centralidade para outro porto no grupo central.

Em relação ao Aeroporto, e apesar do compromisso assumido recentemente pelo Presidente José Bolieiro de fazer parte do investimento, não só não existe verba alocada, como não existe qualquer referência ou proposta. Zero. Contrariando assim tudo o que constantemente vinha a ser dito aos Faialenses.

Acerca deste tema é deveras curioso verificar que aqueles que demonstravam grande ímpeto em criticar o que consideravam de palavras vagas num programa de governo, agora defendem e aplaudem um programa sem uma única referência ao Aeroporto da Horta.

Existe, contudo, investimentos previstos na nossa ilha, mas que na verdade são obras que já estavam a decorrer ou que já estavam previstas e com verba orçamentada pelo anterior Governo.

Como verdadeira novidade para o Faial, para além do infeliz contributo para o seu esvaziamento com o fecho da empresa pública Azorina e as saídas da Direção Regional das Comunidades e da Inspeção Regional do Turismo, temos apenas a requalificação do Pólo de Pedro Miguel do Jardim Botânico.

É certo que no Faial deu resultado a estratégia, mas não basta na oposição disparar contra alvos bem definidos, se depois no Governo os tiros são com pólvora seca.

(artigo publicado no Tribuna das Ilhas na edição de 9 de Abril) 

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