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Deambulações Covidianas (em tempo de férias)

Um mar vermelho com muitos números.
É isto que aparece quando, na RTP-Açores, vemos o mapa dos Açores com os casos de COVID-19. Passados quase 17 meses do início da pandemia, temos mais de 500 casos ativos e a singularidade de termos todas as ilhas com vários casos, excetuando o Corvo. Milhares de pessoas em isolamento profilático por terem contactado com casos positivos, provocando transtorno familiar, profissional e económico. Duas ilhas, pela primeira vez, com transmissão comunitária, ilhas essas que representam 80% da população dos Açores. Ilhas com a teórica “imunidade de grupo” com utentes graves transferidos para ilhas com Hospital. Os três hospitais da Região com doentes internados e três óbitos em menos de 1 semana. E tudo isto com vacinas e sem estarmos a testar um grupo considerável de pessoas que já tem o chamado “certificado digital”. Não tenho dúvidas em afirmar que os casos reais são consideravelmente maiores, mas a verdade é que já estamos todos saturados deste tema…
Felizmente temos as vacinas, senão já teríamos ultrapassado o nosso pior momento com casos graves e óbitos. As vacinas são seguras, eficazes e necessárias, mas nenhuma vacina é 100% eficaz e a sua principal função é impedir a doença grave. Apesar de reduzir a possibilidade de apanhar e transmitir o vírus, a vacina não impede que tal aconteça. Existem vários casos nos Açores. E há que ter em consideração os dados de proteção da vacina à variante Delta (com uma prevalência de 100% nos Açores) que apesar de positivos são inferiores às anteriores variantes.
Dado as nossas especificidades, considero que foi precipitado acabar nos Açores com os testes para quem tem certificado digital (em 1 de Julho), principalmente nas ilhas sem hospital ou que ainda não tinham a teórica "imunidade de grupo". Podíamos ter atrasada algumas semanas, considerando também o pico da variante Delta. Creio até que possa ter sido uma das causas para a transmissão comunitária que já se vive na Terceira, associado à nova variante. Mas outros interesses falaram mais alto.
Sendo eu favorável à abertura e ao turismo (devidamente controlado), acho inacreditável que um qualquer cidadão com certificado digital, proveniente de uma zona de alto risco com transmissão comunitária, possa entrar numa ilha sem casos, sem fazer qualquer teste, mas um Açoriano para ir para determinados países com transmissão comunitária, tenha que fazer teste, mesmo estando vacinado.
E o mantra do “testar, testar, testar”?
E os testes grátis nas farmácias para os Açorianos, anunciados em Maio? Estamos a entrar em Agosto e só recentemente apareceram… para quem vive em São Miguel.
Já perdi conta à quantidade de Faialenses que, mesmo vacinados, desejavam ser testados por se terem deslocado de locais com transmissão comunitária e que se viram impossibilitados de o fazer, sem ser a suas expensas.
Com base em todos estes dados, esperei ver na TV algum tipo de reação pelo Presidente do Governo, uma palavra aos Açorianos, quem sabe novas estratégias, mas não. Entre outras coisas, vi-o ocupado a reunir com o André Ventura, inquieto para reunir com ex-líder do Chega-Açores, feliz num congresso de Jotas e satisfeito por receber um comentador de TV, daqueles de horário nobre. As medidas, essas, vieram através de outro membro do Governo: o relaxamento dos horários nas ilhas com risco elevado e a obrigatoriedade de fazer teste para quem vem da Terceira para as outras ilhas (os não vacinados). Mas só passados uns quantos dias, porque há que dar tempo de preparar as coisas…e o vírus que espere, ou não estivéssemos em tempo de férias.

27/07/2021
(artigo publicado na edição de 30 de Julho 2021 do Tribuna das Ilhas) 

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