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Antes viver sujeitos, que ser livre sem pelouro!

O ano de 2021 terminou.

Vários foram os acontecimentos relevantes, dos quais destaco: o protelar da Pandemia; eleições antecipadas pelo chumbo do Orçamento; a mudança camarária no Faial; e o primeiro ano do governo de coligação de 3 partidos (PSD, CDS e PPM), dependente de acordos parlamentares com IL, Chega e um deputado independente.

A mudança na Câmara da Horta foi o facto político para os Faialenses. Passados 32 anos de poder autárquico socialista, Carlos Ferreira, com a coligação dos 3 partidos que formam o atual Governo, assume a Presidência da Câmara, com uma vitória nos 3 órgãos autárquicos.

Com apenas 3 meses de trabalho, não é possível fazer a análise ao mesmo. Mas com mais ou menos verbas por rubrica, com mais ou menos luzes de natal, até agora tudo se mantém aparentemente igual, incluindo até tiques que antes eram motivo de contestação. Curioso é ver os que se indignavam no passado, legitimarem agora idênticas medidas.

Quem não parece indignado é o PS-Faial, que aceita a desconsideração regional da perda do 3º lugar nas listas à República.

Já no que diz respeito à atuação do novo Governo, tirando a redução da taxa máxima do IVA e a redução do custo dos voos inter-ilhas, o destaque tem sido para um acumular de barafundas, passos em falso, contradições e constante instabilidade.

Temos uma história democrática com apenas 2 longos períodos consecutivos de governação, 20 anos de PSD e 24 do PS. Ora, esses períodos longos levam à perda de clarividência de quem governa e à falta preparação do principal partido da oposição. E isso é algo que ficou claro nesta mudança, com inúmeros incidentes que o comprovam. Associado a isso a agravante de estar totalmente dependente de 5 vontades políticas diferentes. Tenho as maiores dúvidas que o atual Governo leve até ao fim a legislatura. São muitas forças políticas, cada uma com a sua própria agenda, que nem sempre têm os Açores como principal interesse.

A desconsideração a que o maior partido do Governo está entregue ultrapassa o razoável, e exemplo disso foi a situação com impacto nacional despoletada pelo Chega, bem como a clara sujeição aos líderes dos 2 partidos que fazem parte da coligação de governo. Um dos quais que foi eleito com uma centena de votos e que tem um poder que não reflete o seu resultado eleitoral. Chegamos a ver os líderes desses partidos a ofuscar o presidente do Governo, a desautorizar governantes e até a achincalhar e dar ordem de marcha publicamente.

Ter assistido ao líder nacional do Chega, incutir o seu peão de mandar no Governo Regional, foi um atropelo e desrespeito pela Autonomia, fazendo de todos nós moeda de chantagem. Um vexame aos nossos representantes e a um partido com os pergaminhos e princípios do PSD-Açores. Desculpar tudo isto com a exigência de um cheque natalidade e minúsculos apoios a algumas corporações bombeiros (as novidades apresentadas) é, no mínimo, brincar com coisas sérias.

Não é à toa que o exemplo da governação dos Açores tem sido constantemente utilizado como argumento negativo nas eleições nacionais, inclusive pelo PSD e CDS.

E é também isto que está em causa nestas eleições. Se queremos ou não ter um governo da República de direita, totalmente dependente da irresponsabilidade de um partido com a matriz do Chega e dos devaneios do seu “líder supremo”.

Não tenho a menor dúvida que se na Região tivéssemos uma experiência democrática com ciclos políticos de maior rotatividade, como é norma no Continente, esta situação já tinha caído por terra. Mas 24 anos de ausência de poder tem destas coisas. O que contribui, e muito, para a deturpação da divisa do brasão dos Açores “Antes morrer livres que em paz sujeitos”, que hoje em dia mais parece “Antes viver sujeitos, que ser livre sem pelouro!”.


(artigo publicado na edição de 21 de Janeiro 2022 do Tribuna das Ilhas) 

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