As eleições legislativas
trouxeram um novo ciclo político ao nosso País.
Se o alinhamento final foi para mim o expectável, creio que a maioria absoluta deixou todos surpreendidos.
Já tínhamos percebido que CDU e
BE seriam fortemente penalizados por um chumbo do orçamento que foi criticado por
cerca de 2/3 da população e cuja culpa lhes era atribuída. Esperada era também
a subida do Chega e da IL, muita à custa da erosão do CDS e de uma oposição
suave de Rui Rio, constantemente preocupado com lutas internas e a piscar o
olho ao eleitorado do centro-esquerda.
Apesar do desgaste de 6 anos, as
melhorias económicas e sociais dos últimos anos, e a resposta à pandemia, eram
sinais fortes que o PS seria o partido mais votado. Restava saber se seria
suficiente os votos à esquerda para formar governo, ou se, pelo contrário, a queda
de CDU e BE, associada ao forte crescimento da extrema direita, acabariam por
colocar o 2º partido mais votado no poder.
E julgo que foi essa
possibilidade, que foi ganhando força com sondagens de um possível empate
técnico, a razão para o desfecho final.
O curioso é que foram os
comentadores e militantes de direita que alimentaram essa possibilidade,
chegando o próprio líder do PSD a sugerir a António Costa que "perca com
dignidade", tal era a onda de vitória!
Não escondo que sempre esperei
que tanta gabarolice e sondagem de suposto empate técnico, conseguissem unir o
eleitorado do centro e da esquerda, a votar no partido com maior possibilidade
de evitar a entrada do Chega para um governo de direita.
E parece-me claro que foi isso
que aconteceu, porque em plena pandemia e com 1 milhão de pessoas em isolamento
a abstenção baixou! O País estava preocupado com a possibilidade de um governo
dependente da extrema-direita, como temos nos Açores, e isso deixa-me
satisfeito.
Como escrevi depois das eleições
regionais “Há limites e princípios humanistas que nunca deviam ser
ultrapassados, para não legitimar aspirações deste calibre e contribuir para o
seu crescimento, inclusive à custa do seu eleitorado. Neste campo só podemos
ser contra ou a favor, não existe o meio-termo quando convém, e a história
assim nos ensina.”
Se o PSD foi arruinado pela sua
direita, já o PS secou a sua esquerda. Mas em abono da verdade, CDU e BE
deitaram-se na cama que fizeram.
Só ainda não percebi se foi
propositado, para voltar a ganhar a liderança na contestação, no protesto e nas
ruas (que o Chega está a querer ocupar), mesmo sabendo da penalização espectável
nestas eleições, ou se foi mesmo por falta de inteligência e estratégia
política.
Uma coisa é certa, com a sua
queda acentuada e não sendo necessários para validar o governo, teremos em
breve greves e manifestações em força.
Quem tem que estar atento a estes
resultados é o Presidente do Governo Regional, José Bolieiro. Depois do erro de
ter referido que a aliança dos 3 partidos nestas eleições era “com o objetivo
de reforçar o projeto político regional”, ficou também a perceber que Chega e IL
têm mais força que os seus parceiros de coligação, sentindo-se legitimados para
exigir muito mais do que até agora tiveram coragem para o fazer.
Agora imaginem a IL, e principalmente
o Chega, com ainda maior poder num governo regional já instável e dependente de
5 vontades políticas.
Provavelmente já estão desejosos
por novas eleições, mas aguardando uma altura que seja propícia, de maneira a
que não fiquem com o ónus de as terem provocado sem motivo reconhecido pelos
eleitores.
Vão ser tempos difíceis com
muitas exigências e jogos de bastidores que vão retirar o foco dos aspetos
práticos da governação e que poderão levar a eleições antecipadas.
O CDS foi a primeira vítima da
normalização do Chega feita pela direita portuguesa e iniciada com o que aconteceu
nos Açores. O PSD já sentiu o primeiro impacto. Mas mais cedo do que tarde vão
sentir na pele o "beijo de morte" que deram.
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