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Tarifa Açores


Depois de 3 artigos onde fui incisivo nas falhas do Governo Regional, falhas essas que pela persistência ou gravidade têm sido constantemente abordadas por diversos articulistas e inclusive militantes do maior partido do Governo, sinto-me embebido num espírito conciliador e sugestivo. Quero acreditar que o acumular de trapalhadas em tão pouco tempo, não sejam maís do que “dores de crescimento” pela ausência de 24 anos do poder, articulada à difícil tarefa de conciliar uma caranguejola de 5 vontades politicas diferentes, muitas delas ausentes de estrutura programática consistente ou projeto político minimamente implementado na nossa população.

Obviamente que também existem alguns aspetos positivos, os quais já aqui tive oportunidade de referir, como é o caso da tarifa Açores. Aquando da sua apresentação tive oportunidade de referir que a mesma seria exequível, mas que seria bom que os Açorianos percebessem que mais não seria que colocar mais dinheiro dos contribuintes na transportadora, e que seria difícil conciliar esta medida, logística e financeiramente, com os reencaminhamentos de turistas, que tão importantes estavam a ser para as 7 ilhas sem voos de outras companhias ou voos internacionais. Ora, o futuro tratou de confirmar que os reencaminhamentos acabariam alguns meses depois, o que leva a crer que a mesma foi criada já a pensar nesse fim.

Passado 1 ano da implementação da tarifa Açores, ficamos a saber que a mesma custou aos bolsos dos contribuintes Açorianos quase 6 milhões de euros. Foi, contudo, bem empregue, tendo em conta que no ano em questão, ainda na ressaca dos confinamentos e receios da pandemia, o turismo dos Açores teve um bom contributo dos residentes. Essa dinamização da economia foi sobretudo sentido nas ilhas mais pequenas, que foram quem mais beneficiou com esta medida.

Mas considerando o atual momento de forte ânsia de viajar e fazer turismo, e porque afinal estamos perante uma troca de medidas e não de mais uma medida como inicialmente se poderia pensar, a questão que se coloca é se esta troca é efetivamente a melhor opção para obtenção de mais valias para a Região. É porque se anteriormente incentivámos fluxos de dinheiro a entrar do exterior para Região, agora apenas incentivamos o mesmo dinheiro a circular na Região. Também não é difícil perceber a diferença do impacto de um turista que vem de fora e, regra geral, tem um poder de compra superior, necessitando de alojamento, táxi, rent-a-car, refeições, empresas de turismo para vivenciar experiencias e vontade de visitar todos os pontos turísticos, com um residente que muitas vezes já conhece ou tem amigos ou familiares no destino.

Se anteriormente o custo de uma viagem inter-ilhas parecia-me excessivo, uma redução para metade e exclusivamente para residentes, quando voltamos a vivenciar uma procura pelo nosso destino e na maioria das ilhas não existe capacidade imediata para aumentar a capacidade de receber turistas em época alta e proporcionar boas experiências, parece-me algo desajustado.

Bem sei que eleitoralmente é uma excelente medida, mas não será mais eficaz para o bem comum, manter o valor da tarifa Açores na época baixa e criar um valor intermédio para a época alta ou limitar os lugares disponíveis com essa tarifa nos períodos de maior procura? Se existe procura porque devem os contribuintes financiar passagens de baixo preço? Não queremos afinal potenciar um turismo de qualidade e de valor acrescentado em vez de quantidade e de baixos preços?

São perguntas que na falta de melhor conhecimento, deixo para os nossos decisores políticos e empresários do sector do turismo.

(artigo publicado na edição de 23/06/2022 do Tribuna das Ilhas) 

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