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Faial: quando os números mostram a perda de influência

Os números não mentem. Pela primeira vez, o Faial foi ultrapassado pelo Pico no total de dormidas turísticas acumuladas de janeiro a julho. O sinal tinha surgido em junho, mas em julho tornou-se irrefutável: 45.008 dormidas no Pico contra apenas 37.823 no Faial. Uma diferença de mais de sete mil dormidas num único mês. Mais do que estatística, é o sintoma de uma ilha que está a perder o seu lugar de liderança no Triângulo.

Durante décadas, o Faial foi o centro nevrálgico da economia e da política da região. Hoje, assistimos a uma inversão histórica: enquanto o Pico se afirma com uma estratégia consistente e ganha protagonismo, o Faial cresce de forma tímida, refém da falta de visão e de influência. Não se trata de rivalidade entre ilhas-irmãs, mas de uma transformação estrutural que nos está a empurrar para trás.

A perda de peso político do Faial é evidente, e a atual governação regional, com a passividade do PSD/Faial, tem sido cúmplice deste declínio. A redução de voos diretos para o exterior — em contraste gritante com o aumento registado no Pico e em outras ilhas — é apenas mais um exemplo de quem não defende, ou pior, sacrifica os interesses do Faial. Basta olhar para a estrutura do poder regional para perceber onde estão as vozes influentes e decisivas.

Perder centralidade no turismo e na política é hipotecar o futuro. É condenar a nossa economia a um papel secundário no Triângulo e nos Açores. A ironia é cruel: há poucos anos, o PSD/Faial fazia ouvir a sua voz ruidosa na denúncia de problemas semelhantes sob um governo socialista. Hoje, com esses mesmos problemas agravados, a indignação deu lugar ao silêncio cúmplice de uns e a frágeis exercícios de maquilhagem política de outros.

Os factos são claros. Em julho de 2019, em plena vaga de críticas, aterram na Horta 45 voos vindos de Lisboa. Em julho de 2025, foram apenas 40. Menos voos, menos passageiros, menos conectividade. O que antes era sinal de fracasso é agora vendido como êxito. Na comparação do criticado julho 2019 com o celebrado julho de 2025, o Faial perdeu 11,1% dos voos do exterior, enquanto o Pico registou um aumento impressionante de 58,8% (dados do SREA).

Se olharmos para o ano completo de 2019, a Horta recebeu 342 voos de Lisboa, no total de 2024 reduziu para 339.  E como se bateu, nesse mesmo ano, o recorde de passageiros desembarcados? Pela via do reforço das ligações interilhas. Ou seja: os passageiros crescem, mas porque o Faial serve de plataforma secundária, não porque esteja mais ligado ao exterior. Fica assim claro que está em curso uma estratégia de centralização silenciosa, que retira protagonismo ao Faial e o deixa dependente do que sobra.

Quem antes clamava por mais, hoje esconde-se num silêncio cúmplice ou, por mero tacticismo, celebra um crescimento assente no enfraquecimento da própria ilha.

O Faial precisa de líderes que tenham a coragem de enfrentar quem o prejudica, independente da cor política. Se não exigirmos essa mudança já, arriscamo-nos a ser meros espectadores da lenta erosão do nosso futuro e do papel histórico que sempre tivemos no Triângulo e nos Açores.

(artigo publicado na edição de 5 de setembro de 2025 do Tribuna das Ilhas)

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