Simpatizo com o Presidente Marcelo, mas confio pouco.
Penso que Marcelo tem tanto de genuíno como de calculista, não duvido que é genuinamente democrata e preocupado com o País, como é genuinamente populista e eterno criador de factos políticos.
Vem isto a propósito da
dissolução do Parlamento, em virtude do chumbo do Orçamento de Estado para 2022,
efetuado pela direita, com o apoio do PCP e BE.
Não foi por falta de aviso do
Presidente que se chegou onde chegou, e se me parece óbvio que nem Presidente, Governo
ou partidos, desejavam eleições neste momento, cedo se percebeu que, por
motivos diferentes, a maioria não ficou verdadeiramente incomodado que se tenha
chegado a tal. O mesmo já não se pode dizer da maioria dos eleitores deste
país.
Existindo visões diferentes para
o porquê, a verdade é que aqui chegamos pelo chumbo do BE e do PCP.
O verdadeiro dilema do PCP e do
BE foi mais ao menos este:
Hipótese 1 - Abster-se no
Orçamento de Estado por achar que o mesmo não reflete tudo o que acham
necessário para o País, mas pelo menos assegura um governo de esquerda o qual
consegue ter alguma capacidade de influenciar, e mais mil milhões euros para as
famílias portuguesas. Isto sabendo que esta aproximação ao PS, nos últimos
anos, tem provocado uma diminuição contínua das suas intenções de voto.
Hipótese 2 - Chumbar o Orçamento coligado com a direita e a extrema direita, por achar o mesmo insuficiente, mesmo retirando de imediato a possibilidade de entrar em vigor medidas que chegavam aos mil milhões de euros para as famílias. Associado a isto a forte possibilidade de ser penalizado pelos eleitores numa eleição antecipada.Tal facto tornaria possível que mesmo que o PS seja o partido mais votado, não tenha à esquerda maioria para formar Governo, passando o mesmo para a direita com previsível dependência da extrema-direita.
Ora esta última hipótese, implicaria
nenhuma capacidade de influência, mas faria com que assumissem novamente o
papel único de protesto, retirando o ónus da responsabilidade governativa. Podendo
o mesmo se refletir numa subida da intenção de voto a longo prazo e não
permitindo que o Chega seja o destaque na via do protesto e aproveitamento da
contestação social. Acresce que o Chega tem contribuído, direta ou
indiretamente, para a redução da influência sindical do PCP. Veja-se o que
acontece com o Movimento Zero na Polícia, os motoristas de matérias perigosas, a
influência na cúpula do sector de Enfermagem e nos trabalhadores dos Portos, e
o potenciar do crescimento de novos sindicatos.
Não é também por acaso que as
greves dos sindicatos de esquerda agora dispararam como nunca. Curiosamente
depois do resultado das autárquicas e numa altura em que estava garantida a
redução do IRS, aumentos na função pública e no salário mínimo, subida das
reformas e abonos de família e aumento da transferência para o SNS.
Curiosamente numa altura em que o Governo até está de saída e limitado no que
pode fazer.
Depois da dissolução já vamos com
4 sondagens diferentes e todas têm em comum duas coisas: vitória do PS, com
valores que variam entre os 38,5% e 40% e a incapacidade de atingir a maioria
absoluta. Algo que não é de estranhar, uma vez que a meu ver o PS só tinha
possibilidade de maioria absoluta se o vice-almirante Gouveia entrasse na
campanha, de camuflado e bandeira do PS na mão, apresentado como futuro membro
do Governo. Mas não duvido que alguns no PS ainda acreditam que a maioria seja
possível. E verdade seja dita, a existir uma possibilidade, seria agora, com a
implosão do CDS e a disputa e incerteza interna no PSD, associado à esperada
bipartidarização na procura do voto útil, com consequente prejuízo dos partidos
mais pequenos.
Mas na incerteza que se tornou a
política portuguesa, utilizo uma frase que saltou das quatro linhas para a boca
dos portugueses: “prognósticos só no fim do jogo”.
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