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Para além da Guerra

Se para este ano as perspetivas já eram desafiadoras, as consequências da guerra na Ucrânia tornam tudo extremamente difícil.

Antes já se vivenciava uma subida abrupta da inflação, que pressionava os custos de famílias, empresas e Estados. A pandemia mantém o seu impacto direto e indireto na economia. A seca que alastra no País, com efeitos negativos esperados a curto prazo. E agora temos a guerra entre 2 dos maiores produtores mundiais de cereais e a subida dos combustíveis e do preço da energia, que geraram um acréscimo descontrolado do custo de todas as matérias-primas, principalmente das essenciais para a produção alimentar e que já obriga a racionamentos em Portugal. As sanções económicas que, de um lado e do outro, não param de escalar, e que todos acabaremos por sentir.  São tudo exemplos preocupantes e que vão obrigar aos decisores políticos, uma liderança forte e eficaz, com rápida capacidade de decisão e de implementação de medidas mitigadoras.

Tudo aquilo que, infelizmente, não temos visto no nosso Governo Regional e que deixa qualquer cidadão atento, ainda mais preocupado. 

Basta ver a assustadora falta de estratégia na anteproposta de Programa Operacional Açores 2030. Um documento que define como a Região vai aplicar os fundos estruturais de 2021 a 2027. Um programa com erros e omissões que terá que ser revisto, com todos os prejuízos decorrentes de mais atrasos nesta altura crítica que vivenciamos. Um governo que aparenta estar mais preocupado em agradar os parceiros de coligação e satisfazer os devaneios do Chega ou os ultimatos da IL, do que governar para os Açorianos. 

A monumental barracada que foi o processo das Agendas Mobilizadoras e todo o tempo perdido associado ao mesmo, os despautérios no programa de apoio à energia solar, em que o próprio Secretário Regional desconhecia a sua própria proposta. A ausência de medidas para lidar com as consequências da Guerra na Ucrânia, que também por aqui já se fazem sentir enquanto que por todo o lado já estão a ser implementas. Até o próprio apoio aos refugiados demonstra uma reação lenta e atabalhoada. Fiquei incrédulo, aquando da chegada dos primeiros refugiados a São Miguel, ver um representante da AIPA e o Presidente da Câmara de Ponta Delgada (do PSD) a dizerem que desconheciam o que é que o Governo Regional tinha preparado e que nunca tinham sido contactados para tal.  

O fim do transporte marítimo de passageiros e viaturas entre as ilhas dos Açores, o fim do encaminhamento gratuito de passageiros no transporte aéreo inter-ilhas, sem aviso prévio, sem ouvir ninguém e com graves consequências para 7 das 9 ilhas, e para o qual ainda não foi apresentado alternativa. 

Os quase 4 meses de greve na Atlânticonline, com graves prejuízos para o Triângulo (alguém acredita que se fosse em São Miguel duraria todo este tempo?). Uma empresa à deriva em que o Governo está há meses com dificuldade de arranjar um presidente de Conselho de Administração, o que torna tudo isto inconcebível.  

A recente trapalhada do Casino no Pavilhão do Mar, um processo pouco transparente, que tão depressa apareceu como desapareceu, sem qualquer tipo de explicação e onde, mais uma vez, ficou demonstrada a falta de estratégia.

A inacreditável ausência de liderança, em que os partidos da coligação dão ordem de marcha a Secretários Regionais publicamente. Diretores regionais escolhidos por esses mesmos líderes, à total revelia dos próprios Secretários.  Exonerações de diretores regionais por email, que por sua vez se recusam a sair e que dão a entender que que quem vai sair é o Secretário. Presidentes de Câmara que pedem a demissão de Secretários. Tudo isto é caricato, mas o leitor não pense que é uma visão sectária da minha parte, pois é o próprio líder de um dos partidos que apoia o Governo que publicamente refere que “estamos perante um Governo que está exonerado pelo Povo há meses e que só os 3 partidos da coligação ainda não perceberam que está”.

O insuspeito Osvaldo Cabral escreve: "Este Governo está a fazer um enorme esforço para ficar na história como o que conseguiu colecionar mais disparates em tão pouco tempo". E se tal já era mau, o problema é que acontece quando estamos a passar uma tempestade perfeita. A bem dos Açores, o governo precisa de dar uma volta de 180º, precisa de se renovar e de um Presidente que decida de uma vez por todas assumir a liderança, ou que pelo menos tenha a coragem de reconhecer a incapacidade de governar na dependência de 5 vontades políticas e sujeitar-se à decisão dos Açorianos. 

14/03/22



(artigo publicado na edição de 18 de abril do Tribuna das Ilhas) 

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