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Legislativas 2020 – Um mar de incertezas e possibilidades

 O resultado final da vitória do PS nos Açores e do PSD no Faial foi o previsto.  Como anteriormente escrevi, faltava perceber se a vitória do PS seria ou não por maioria e o papel de novos e “pequenos” partidos em todo o xadrez político. Já o que não esperava era o mar de incertezas e possibilidades com a perda da maioria absoluta.

Quer a sondagem, quer a projeção acertaram no intervalo calculado para todos os partidos…menos no PS, o partido mais votado. O mais votado, mas também o mais prejudicado pela redução de votos e perda de deputados (perde 3 em São Miguel, 1 na Terceira e 1 na compensação). Daqui se constata que a votação em São Miguel foi determinante para o desfecho final.

No Faial, o resultado esperado da vitória do PSD, mas com significado prático idêntico: 2 deputados para o PSD e 2 para o PS.

Já a análise aos votos permite tirar outras conclusões. Desde logo a redução da abstenção com mais 500 eleitores a votar que em 2016.

Comparando com as anteriores legislativas o PSD ganhou 198 votos, o PS aumenta 4 e o CDS perde 6 votos. Constatando o que se passa nas outras ilhas, mais do que opções governativas, o avolumar da derrota do PS-Faial parece ser um voto de protesto, sedento por mudanças de protagonistas e estratégias.  

A CDU, em contraste com o desastre regional, mais do que duplica no Faial, acrescentado mais 366 votos, sendo assim o partido com maior ganho. Pode estar aqui o futuro de um partido que se encontra nos cuidados intensivos.

Já o BE, contra a corrente de subida regional, é duramente penalizado com a perda de quase metade dos votos, a que não será alheio a escolha de uma candidata que pouco ou nada diz à larguíssima maioria dos Faialenses.

O CHEGA na sua estreia, com um candidato local que nada acrescentou, vive exclusivamente da onda sensacionalista de André Ventura, associado aos votos dos revoltados com o sistema. No Faial obteve dos piores resultados, mas chegou para causar impacto, ultrapassando PPM e PAN e quase apanhar o BE.

No que toca ao todo regional, o destaque vai para a perda da maioria absolta do PS e o facto de passamos a ter 8 forças políticas representadas na Assembleia Regional, com as entradas de CHEGA, IL e PAN e a saída da CDU.

Acresce o facto de as forças políticas de direita perfazerem a maioria dos 29 deputados: 21 PSD + 3 CDS +2 CHEGA +2 PPM + 1 IL. Os restantes distribuem-se por 25 no PS, 2 BE e 1 PAN.

Está aberta a difícil negociação, que se prevê que seja constante ao longo de todo o mandato. Qualquer que seja a equação escolhida vai depender do apoio de múltiplos partidos, numa engenharia pós-eleitoral nunca vista em Portugal.

Se tivesse de apostar a chave para o futuro seria um Governo minoritário do PS, validado com votos a favor de BE+PAN e a abstenção do CDS (ou vice-versa), bem como as restantes combinações entre estes 3 partidos, na maioria das votações. Todas obtêm um número de deputados superior à restante oposição, com exceção do cenário do voto a favor do PAN e abstenção de BE e CDS.

Um governo do PS, parece-me de todas as inúmeras alternativas a mais fácil de conseguir, sendo provavelmente a mais estável, partindo do princípio que o PS retira as devidas consequências destas eleições.

Já uma coligação de direita obriga ao entendimento de 5 partidos e incluir a extrema-direita. Se o PSD entra em coligações com um sem número de novos partidos, não só está a legitimá-los como a contribuir para que consolidem no futuro à custa do seu eleitorado. Já os pequenos partidos antissistema, se na primeira aparição no parlamento fazem uma coligação para viabilizar um Governo PSD, estão a negar a sua natureza.

Estou certo que as bases do PSD estão ávidas do poder, mas tenho dúvidas que o seu líder esteja radiante com a possibilidade de tomar as rédeas numa forte crise económica e pandémica, com um governo tão instável e totalmente dependente dos caprichos de 4 partidos, colocando em risco as eleições pós-Vasco Cordeiro. 

Tudo ainda é uma incógnita, mas qualquer que seja o Governo, vai depender duma equação bem mais difícil que a Gerigonça na República.

26 Outubro 2020

(artigo publicado na edição de 30 de Outubro do Tribuna das Ilhas)

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