O resultado final da vitória do PS nos Açores e do PSD no Faial foi o previsto. Como anteriormente escrevi, faltava perceber se a vitória do PS seria ou não por maioria e o papel de novos e “pequenos” partidos em todo o xadrez político. Já o que não esperava era o mar de incertezas e possibilidades com a perda da maioria absoluta.
Quer
a sondagem, quer a projeção acertaram no intervalo calculado para todos os
partidos…menos no PS, o partido mais votado. O mais votado, mas também o mais
prejudicado pela redução de votos e perda de deputados (perde 3 em São Miguel,
1 na Terceira e 1 na compensação). Daqui se constata que a votação em São
Miguel foi determinante para o desfecho final.
No
Faial, o resultado esperado da vitória do PSD, mas com significado prático
idêntico: 2 deputados para o PSD e 2 para o PS.
Já
a análise aos votos permite tirar outras conclusões. Desde logo a redução da
abstenção com mais 500 eleitores a votar que em 2016.
A
CDU, em contraste com o desastre regional, mais do que duplica no Faial,
acrescentado mais 366 votos, sendo assim o partido com maior ganho. Pode estar
aqui o futuro de um partido que se encontra nos cuidados intensivos.
Já
o BE, contra a corrente de subida regional, é duramente penalizado com a perda
de quase metade dos votos, a que não será alheio a escolha de uma candidata que
pouco ou nada diz à larguíssima maioria dos Faialenses.
O
CHEGA na sua estreia, com um candidato local que nada acrescentou, vive
exclusivamente da onda sensacionalista de André Ventura, associado aos votos
dos revoltados com o sistema. No Faial obteve dos piores resultados, mas chegou
para causar impacto, ultrapassando PPM e PAN e quase apanhar o BE.
No
que toca ao todo regional, o destaque vai para a perda da maioria absolta do PS
e o facto de passamos a ter 8 forças políticas representadas na Assembleia
Regional, com as entradas de CHEGA, IL e PAN e a saída da CDU.
Acresce o facto de as forças políticas de direita perfazerem a maioria dos 29 deputados: 21 PSD + 3 CDS +2 CHEGA +2 PPM + 1 IL. Os restantes distribuem-se por 25 no PS, 2 BE e 1 PAN.
Se
tivesse de apostar a chave para o futuro seria um Governo minoritário do PS,
validado com votos a favor de BE+PAN e a abstenção do CDS (ou vice-versa), bem
como as restantes combinações entre estes 3 partidos, na maioria das votações. Todas
obtêm um número de deputados superior à restante oposição, com exceção do
cenário do voto a favor do PAN e abstenção de BE e CDS.
Um
governo do PS, parece-me de todas as inúmeras alternativas a mais fácil de
conseguir, sendo provavelmente a mais estável, partindo do princípio que o PS
retira as devidas consequências destas eleições.
Já
uma coligação de direita obriga ao entendimento de 5 partidos e incluir a
extrema-direita. Se o PSD entra em coligações com um sem número de novos
partidos, não só está a legitimá-los como a contribuir para que consolidem no
futuro à custa do seu eleitorado. Já os pequenos partidos antissistema, se na
primeira aparição no parlamento fazem uma coligação para viabilizar um Governo PSD,
estão a negar a sua natureza.
Estou
certo que as bases do PSD estão ávidas do poder, mas tenho dúvidas que o seu
líder esteja radiante com a possibilidade de tomar as rédeas numa forte crise
económica e pandémica, com um governo tão instável e totalmente dependente dos
caprichos de 4 partidos, colocando em risco as eleições pós-Vasco Cordeiro.
Tudo
ainda é uma incógnita, mas qualquer que seja o Governo, vai depender duma
equação bem mais difícil que a Gerigonça na República.
26 Outubro 2020
(artigo publicado na edição de 30 de Outubro do Tribuna das Ilhas)
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