Sábado, 6 de janeiro 2018. Um dia que ficará na história do Triângulo. Acordei cedo, como acordam todos os pais com crianças pequenas. Depois de tratar das mesmas, já com o pequeno-almoço tomado, numa pesquisa rápida pelo Facebook, deparei-me com o acidente do navio Mestre Simão à entrada do cais da Madalena. Ainda incrédulo, pude assistir aos diversos diretos, proporcionados por pessoas que rapidamente se deslocaram ao local. Fruto das novas tecnologias, pudemos assistir praticamente em direto ao drama que acontecia, com direito até à descrição aflitiva do que os nossos olhos presenciavam. O barco a balançar, preso nas pedras, para um lado e para o outro ao sabor das vagas que o fustigavam, alguns gritos das pessoas que assistiam no cais, aquando do efeito de uma vaga maior, provavelmente com familiares a bordo. A descida dos passageiros para a balsa, que agora vendo até foi rápida, mas que pareceu interminável quando estavam ao sabor das ondas e do perigoso balançar do barco sobre eles. Mais tarde as impressionantes imagens de um bombeiro a retirar um bebé de poucos meses da balsa que finalmente chegava ao cais, com todos os passageiros são e salvos, graças à competência e sangue-frio do mestre e tripulantes, que seguiram os procedimentos de emergência adquiridos em formação.
O objetivo mais importante já tinha sido alcançado, todas as vidas humanas salvas, devido ao profissionalismo da tripulação, bem como o apoio das autoridades marítimas, bombeiros e populares que acorreram ao local, nomeadamente o barco da empresa marítimo-turística que rebocou a balsa para o cais. A tragédia das vidas humanas foi evitada, mas para as gentes do canal, as imagens do barco encalhado, com a popa submersa, não deixa de ser uma dor de alma. Um barco que praticamente todos nós já utilizámos, ao qual possuímos uma ligação afetiva, que o consideramos como “nosso”. Não menos emocionante foi a descrição feita pelos passageiros a bordo, na qual destaco o texto emotivo de uma enfermeira do Hospital da Horta, que para além de relatar o acontecimento, termina com um sentido obrigado à tripulação e ao mestre da embarcação.
Se o principal objetivo foi atingido, o risco ambiental ainda permanece por resolver, tendo em conta o combustível que se encontra no navio e algum já no mar, circunscrito numa área pelas autoridades que já trabalham para a sua remoção.
A reposição da normalidade das viagens já está assegurada pelos antigos Cruzeiros, que infelizmente não permitem o transporte de viaturas. Situação essa que será resolvida aquando da chegada do navio Gilberto Mariano, que permanecerá no Continente ainda algum tempo para a certificação obrigatória. Por fim a remoção do navio Mestre Simão, que não aparenta ser uma tarefa fácil nem rápida de resolver, mas que esperamos todos que o mesmo ainda tenha reparação. Muita falta vai fazer ao Triângulo!
Não vou apontar causas nem responsabilidades, para isso existem as diferentes autoridades e especialistas que farão os devidos inquéritos, mas como é normal quando alguma coisa corre mal, deverá envolver um conjunto de fatores que coincidiram para tal desfecho. Estaremos cá todos para ver os resultados e opinar sobre os mesmos. Mas sobretudo para aprender com o que de menos bem possa ter acontecido, tirando daí as medidas necessárias para que tal não volte a acontecer.
Antes mesmo da chegada dos técnicos ao local, já alguns colocavam em prática todos os seus certificados em navegação marítima, toda a sua experiência em navios daquele porte e todos os títulos académicos de engenharia naval adquiridos pelo Facebook! Curiosamente, muitos deles são os mesmos que, também pelas redes sociais, adquiriram especialidade de piloto-aviador, aeronáutica ou meteorologia, que com um simples olhar para o céu ou para uma foto nas redes sociais, vociferam as suas sábias conclusões pelo facto de determinado avião não ter aterrado ou ter sido cancelado.
Pergunto-me às vezes se este tipo de pressão constante, não terá uma repercussão, mesmo que de uma maneira inconsciente, nos pilotos e mestres que escalam estas ilhas.
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